´´ Adeus a um amigo

 

Patti Smith em seu livro Só Garotos, relata seu encontro de menina tímida, quando ainda não era famosa, com Jimi Hendrix. Sentada numa escada de acesso a uma badalada casa de Nova Iorque, um dia antes de pegar o avião para Londres e tocar no festival da Ilha de Wight: Ele passou um tempo comigo na escada e me falou do projeto que queria fazer com o estúdio. Ele havia sonhado em reunir músicos do mundo todo em Woodstock, e todos se sentariam no campo, formando um círculo, e tocariam sem parar. Não importando o tom ou ritmo, ou a melodia, continuariam tocando suas divergências até encontrar uma linguagem comum. Depois gravariam essa música, essa linguagem universal abstrata, em seu estúdio novo.

- A linguagem da paz. Saca?"
 
 

Á esquerda, Agner com sua inseparável cerveja, tocando sua guitarra imaginária, acompanhado de seu irmão Marcão.

 

Alguns de vocês que agora me lêem, conheceram meu bom amigo Agner, que nos deixou poucas horas atrás, no final do dia 05 de janeiro de 2011. Quero crer que nesse momento esteja sentado no campo, assistindo a inusitadas jams, talvez numa delas Jimi Hendrix fazendo a guitarra, John Bonham na bateria, Fred Mercury no piano com Phil Lynott no baixo, enquanto Elvis divide os vocais com Ronnie James Dio e Janis Joplin, cantando Imagine de John Lennon, sob a batuta de Frank Zappa, para uma animada platéia, com Gandhi aplaudindo no centro.

 

Agner me introduziu à sutileza de Wishbone Ash enquanto que eu retribuí levando-o a um show do Camel. Sempre que nos encontrávamos trocávamos entusiasmadas informações e tecíamos acalorados comentários sobre nossa paixão em comum, o rock’n’roll. Apesar de gostarmos tanto da presença um do outro, vimo-nos apenas em algumas ocasiões como shows, festas familiares e somente poucas vezes para celebrar nossa amizade e paixão. Sempre que conversávamos fazíamos planos para nos encontrar e compartilhar as novidades garimpadas. Foram apenas 3 vezes que fizemos como no filme Sociedade dos Poetas Mortos, só que no lugar de declamar poesias, tocávamos eufóricos as pérolas descobertas, um para o outro.

 

Tomara que sua partida sirva para nos lembrar de que temos que nos esforçar um pouco mais, passarmos mais tempo com aqueles que nos fazem bem e com os quais nos identificamos mais, afinal, com quantas pessoas você realmente tem afinidade? O amanhã poderá não existir para alguém.

 

No dia da foto, estavam tocando em minha casa o pessoal do Flores do Fogo, a Roberta Kiefer com seus clássicos do rock e o Márcio Pignatari com seu blues, ele me chamou de lado e disse “É Ricardão, hevy metal: mil notas e um sentimento, blues: uma nota, mil sentimentos.”, e riu para mim em êxtase. Também dizia sempre “Deus salva, o rock alivia.” É... vou precisar ouvir muito rock nos próximos dias para aliviar a dor que sinto no momento.

 

Adeus meu amigo, e espero que você possa filmar os shows por aí, para me mostrar o que perdi quando nos encontrarmos novamente.

 

 

A última vez que estivemos juntos, no show de Peter Frampton.

 

Ricardo

bluesrockshow@gmail.com

 

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