´´Che ou Nelson

Che ou Nelson

Sempre que vejo alguém usando uma camiseta ou com um pôster de Che Guevara, me pergunto o que a pessoa sabe sobre ele.

Argentino, descendente de irlandeses, Che Guevara nasceu Ernesto Lynch. No final dos anos 50 foi ser o homem forte de Fidel Castro na revolução cubana. Autor de várias frases de efeito como Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”, Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados, tornaram-no popular e, por mais que tenha combatido o “imperialismo”, tornou-se símbolo para a sociedade de consumo para a qual vende camiseta, cigarro, café, tênis, relógio, qualquer coisa, até capinha de celular. Mas foi também através das frases que expôs toda sua intolerância e truculência: “Não posso ser amigo de quem não compartilha das mesmas idéias que eu.” , “Adoro o ódio eficaz que faz do homem uma violenta, seletiva e fria máquina de matar.”, "A manifestação mais positiva e forte que existe, além de todas ideologias, é um tiro bem dado em quem merece na hora certa." Num discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas, fez um discurso terrorista e colérico onde proclamou outra celebre frase que entrou para a história: “Fuzilamentos? Sim! Fuzilamos e continuaremos fuzilando!”

Será que quem consome sua imagem tem noção de que era um assassino cruel e sanguinário? Milhares de homens, mulheres e crianças, por pensar diferente, foram considerados inimigos do povo pelo regime de Fidel Castro, foram fuzilados por pelotões que Che treinou e comandou pessoalmente. Não hesitou em atirar na cabeça de um companheiro de guerrilha por suspeitar que estava sendo desleal. Hitler queria exterminar os judeus, o comunismo quer exterminar qualquer um que não concorde com o regime. Para se ter um paralelo, na ditadura do Brasil, pessoas falam horrorizadas de 379 pessoas, entre mortos e desaparecidos. Até o final da década de 60, segundo “O Livro Negro do Comunismo”, ocorreram 14.000 execuções em Cuba. Segundo o jornalista cubano Luis Ortega que escreveu o livro “Yo Soy El Che!”, Che Guevara mandou fuzilar 1.892 pessoas. Isso, para não falar no seu racismo e perseguição aos homossexuais.

O comunismo foi o regime que mais matou no século XX.

Em 2008 foi lançado um filme Che, "biográfico", onde estranhamente as chacinas e assassinatos a sangue frio foram omitidos. Alguns críticos dizem que seria o mesmo que fazer um filme mostrando o lado bom de Hitler, onde poderia ser enaltecido o fato de ter tirado a Alemanha da recessão, o seu amor pela música, seu lado artístico na pintura, sem mencionar a execução de 6 milhões de judeus e, por fim, como no filme de Che, transforma-lo numa vítima da guerra.

“O que afirmamos é que devemos proceder ao longo do caminho da libertação mesmo que isso custe milhões de vítimas“. Como pode um libertador de um povo não se importar com milhões de vítimas? Há de se concluir que ele seria favorável ao ataque às torres gêmeas. Eu não! Não há princípios, para mim, que justifiquem o derramamento de sangue inocente.

Alguns defensores dizem que o que vale hoje são mais os seus princípios do que os atos. Devemos dizer o mesmo então do comunismo que faliu países inteiros, matou milhões, se manteve no poder graças a tirania e condenou sua população a uma vida miserável por décadas?

Nelson Mandela nasceu em 1918 e na década de 50 se tornou o principal membro a lutar contra a segregação racial na África do Sul. Ficou preso de 1964 a 1990. Quando libertado, no lugar de procurar por vingança ou acirrar o ódio racial, se aliou ao então presidente Frederik de Klerk, com quem dividiu o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços de acabar com o apartheid. Em 1994, Mandela tornou-se presidente da África do Sul e reunificou o país. Há alguns filmes muito interessantes sobre ele que mostram como isso foi feito. E no lugar de se perpetuar no poder e se tornar um novo ditador, como tantos exemplos que temos, quis cumprir apenas um mandato - de transição.

Eis algumas de suas frases que mais gosto: "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo."“Sem democracia não pode haver paz.”, Sempre parece impossível até que esteja feito., “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”, “Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão.”, “Se você quiser fazer paz com seu inimigo, você tem que trabalhar com ele. Assim ele se tornará seu parceiro.”,"Eu nunca perco, ou eu venço ou eu aprendo."

Por isso, sempre que vejo alguém com uma imagem de Che tenho vontade de dizer “Ei, vai dar uma lida sobre Nelson Mandela, veja algum dos filmes que fizeram sobre ele, e duvido que você não vá trocar Che por Nelson. Infelizmente as imagens de Mandela não são populares por aqui.

É claro que são duas situações distintas. Nelson foi um santo? Não, claro que não, e dizem que tem muitos podres. O que posso afirmar é que para os dias de hoje, a atitude, os atos e os exemplos de Mandela levariam muito mais longe do que a violência de Che que só levaria a mais violência e sofrimento do povo.


Abraços

Ricardo Koetz

ricardo@bluesrockshow.com




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