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https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2020/09/5984709--se-pode-entrar-em-onibus-lotado--por-que-nao-pode-praia----indaga-banhista.html#foto=3 Em fevereiro de 2020, uma nuvem negra já cobria praticamente o mundo todo, aprisionando a população numa dobra do tempo, forçando o isolando e limitando-a a uma forma de vida quase vegana, digo, vegetativa. (Perdoem a piada politicamente incorreta.) Infelizmente nem tudo ficou congelado: a fome aumentou seu apetite; doenças tiveram seus diagnósticos postergados, enquanto avançaram silenciosamente; sonhos empoeiraram nas prateleiras quase inalcançáveis; contas destruíram empresas e devoraram as escassas economias de muitos; postos de trabalho deixaram de existir para sempre; e alguns trabalhadores nunca mais receberão salários. Países fecharam suas fronteiras, empresas suas portas, meios de transporte estancaram, o direito de ir e vir foi tolhido, a economia encolheu, e pessoas se viram aprisionadas, tal qual na ditadura de certos países... Os soldados, desta vez, vestem uniforme branco. Nas frentes de batalha são confinados ao trabalho desumano e extenuante, num front superlotado de feridos. Civis e combatentes tombam sem sequer terem direito a uma despedida ou cerimônia fúnebre. Muito menos são distribuídas medalhas para os heróis mortos em combate. As atitudes dos governantes pelo mundo foram semelhantes, decretaram o isolamento e ajudas financeiras foram dadas. No Brasil foi parecido, contudo, nossos políticos reagiram “Aqui, não!” e não permitiram que a pandemia se atrevesse a atrapalhar a maior festa popular do mundo. Sem convite e visto de entrada cassado, o vírus aguardou respeitosamente a sua vez e só se tornou um risco depois carnaval. Mas houve outras diferenças: nosso presidente e parte dos políticos se comportaram com desfaçatez e inegável irresponsabilidade, incentivando a população desarmada a simplesmente enfrentar o inimigo; além disso, não seria Brasil se não existissem larápios se aproveitando de verbas públicas e privadas para construir hospitais de campanha, que mal entraram em funcionamento, e comprar equipamentos superfaturados, alguns que jamais serão utilizados. Mesmo com os maus exemplos, muitas empresas contribuíram significativamente, e a maior parte da população se comportou exemplarmente durante seis longos meses, mas... paciência tem limite. Sinais de inquietação já estavam sendo notados, até que chegou o feriado da independência do Brasil, que fez tocar o despertador no subconsciente coletivo e, tal qual nosso imperador, Dom Pedro I, o povo num rompante espontâneo bradou: “Independência ou Morte!”, conforme queria nosso presidente há tempos. O que se viu à seguir foi o estouro da boiada, as praias foram inundadas de pessoas, as baladas bombaram e os hotéis do litoral tiveram sua lotação inesperadamente esgotada. Sem panelaço, o povo foi às ruas para retomar a liberdade que lhe pertence e não abre mão! Aqui em casa não foi diferente, apesar de não termos viajado, minha esposa convidou o irmão, uma prima, que convidou um amigo... enfim, quando percebemos, tínhamos quase vinte pessoas ao redor da mesa, que incluíam adultos, três crianças e uma idosa. Apesar das perdas, deverá vir também o baby boom, para contribuir com o aumento na natalidade típico do pós guerra, e alerto: a Covid19 que se cuide, o gigante dorme, mas quando acorda, não tem quem possa com ele, pois declaramos definitivamente “Basta! Independência ou Morte!” Espero que ninguém tenha dúvida quanto ao tom irônico desse meu texto.
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