Estrada da Petrobras - pesadelo

O passeio decidido para esse sábado (03/05/2014) não tinha segredos, descer pela Rodovia Oswaldo Cruz (serra de Taubaté) até Ubatuba e subir pela Estrada da Petrobras, em Caraguatatuba.
 

Primeira parada foi em São Luiz do Paraitinga, onde encontramos alguns amigos. 


Enquanto dois retornaram,  eu, o Ricardo Simões e o Cláudio Ferreira descemos a divertida serra de Taubaté até Ubatuba, para depois rumarmos para Caraguá. De lá, nos dirigimos para a Estrada da Petrobras, achando que seria algo parecido com a Serra da Macaca (Pq. Estadual Carlos Botelho), que, por sinal, está sendo pavimentada.
 

Os primeiros 15 km foram difíceis, dentro da mata fechada que lembra a estrada para a Praia dos Castelhanos na Ilha Bela. Paradas para algumas fotos e a certeza de que no planalto tudo ficaria mais plano e fácil. Foi uma ilusão besta, a Estrada da Petrobras fica entre às rodovias Mogi-Bertioga e Tamoios que são um sobe e desce sem fim, por que então imaginar que uma estrada paralela de terra seria diferente? Como a condição foi se tornando cada vez mais dramática, retornar não era uma alternativa viável, então só restava rezar.


Apesar de permear belas paisagens, havíamos levado mais de uma hora para avançar menos de 20 quilômetros, o que estava me deixando preocupado. Alertei meus amigos que ficassem a uma distância razoável de mim, pois se eu não conseguisse concluir alguma subida, ficaria no meio do caminho e atrapalharia a passagem deles. Dito e feito, depois de enfrentar várias subidas e descidas com pedras roliças do tamanho de um punho ou maiores, chegou a pior subida. Na impossibilidade de apoiar a perna esquerda para inclinar a moto e depois endireitar para o lado certo, ela foi escapando para a direita até que tive que parar para não sair da estrada. Com isso, todos tiveram que parar no morro acima também e encalharam. Deixei rolar para trás para aponta-la para o lado certo, mas parar a moto numa subida com pedras soltas faz com que a roda traseira gire em falso quando for partir novamente, cave um buraco e encalhe, além disso, o pé escorrega nas pedras e fica difícil manter a parte brilhante da moto para cima e a de borracha para baixo.


Quem foi mais prejudicado com minha impossibilidade de conduzir a moto direito foi o meu chara. Acima, o Cláudio tentando endireitar a moto com ele em cima - não deu. Olhe o tamanho dessas pedras, agora imagine uma subida ingrime inteira feita assim.
 
Não demora, a reza passa a ser substituída por promessas, entre elas, que se você sair dessa, jamais voltará a esse lugar, depois, jura que nunca mais irá colocar a moto em estrada nenhuma sem saber o que te espera. Simular um defeito e chamar o resgate do seguro me passou pela cabeça várias vezes, mesmo sabendo que levaria horas para me encontrarem, mas o sinal do celular era precário. Sim, eu estou brincando, mas que passou pela cabeça passou.
 
Como eu estava na frente, vieram me empurrar, mas avancei apenas poucos metros com a moto fedendo a pneu e embreagem queimados. Tive que colocar o orgulho de lado e entrega-la para o Cláudio, um touro de forte e capacidade de pilotagem muito superior à minha. O meu chara fez o mesmo e se não fosse pelo Cláudio, estaríamos em seríssimos apuros. Imagine que eu já havia cogitado fazer esse passeio sozinho!!!


Em alguns trechos em que a mata abria, tínhamos o sol nos ofuscando diretamente, mas eu não reclamava, pois na velocidade que avançávamos, poderia ficar bem pior se não o tivéssemos mais como companhia.


Inicia-se então uma nova seção de rezas, pedindo que os piores momentos já tivessem ficado para trás e agradecendo a cada 100 metros superados. Não adiantou muito, logo apareceu outra subida difícil, em curva, que me fez parar e o chara que vinha embalado atrás, atirando pedras para todo lado, teve que derrubar a moto para não bater em mim.

 
Desde que tinha voltado a andar de moto, eu havia conseguido enfrentar todas as situações, mas, com um gosto amargo na boca, tive que admitir que havia encontrado meu limite, aquela estrada era mais forte que eu. Depois de uma sequência difícil, esgotados, quase tendo câimbras no antebraço esquerdo, fizemos uma parada e a pergunta que eu temia me foi feita. Quanto falta? Para não abater demais o moral dos amigos respondi 20 quilômetros, que me pareciam menos insuportáveis que os reais 30. Como mentira tem perna curta, depois de mais 10 quilômetros de perrengue, à uns 40 sem ver uma única pessoa, encontramos finalmente uma alma viva perambulando numa reta de terra batida e cascalho. 
- Senhor, quanto falta para o asfalto? Perguntou meu chara.
- Vinte quilômetros!
Para nosso alento, informou que a estrada iria melhorar. Foram mais de 3 horas para andar uns 50 quilômetros.
 
Alguns metros à frente, mais uma longa descida difícil com muita pedra solta, que me fez reforçar todas as promessas feitas inúmeras vezes antes, felizmente o tiozinho estava certo e logo a estrada melhorou, começaram a surgir alguns sinais de civilização como eucalipto para corte e casas humildes.


No início imaginei que a estrada pudesse ser uma interessante alternativa para carros em casos de feriados e trânsito congestionado, esqueça! Anda-se a maior parte do tempo em primeira marcha, a 20 por hora ou menos, batendo em pedras e passando sufoco, portanto, se for para andar nessa velocidade, apesar de entediante, acredite, é bem mais cômodo fazê-lo no asfalto congestionado.
 
Ao escurecer, felizmente, encontramos novamente o asfalto, viramos à esquerda em direção à Mogi das Cruzes. Como se fosse para amenizar a ferida na minha autoestima, depois da tempestade veio a bonança e fomos premiados com um lindo pôr do sol, nuvens compridas e vermelhas riscavam o céu que eram refletidas num lago. Mas nada foi mais reconfortante do que sentir a maciez do asfalto que me transmitia a sensação de estar flutuando, até mesmo a encalombada Marginal Tietê parecia um tapete.
 
Conclusão, passar apuro por uns 15 quilômetros é divertido e suportável, mais que isso, passa a ser sofrimento, portanto, a não ser que você seja masoquista ou esteja se preparando para o Dakar, evite! Se mesmo assim você quiser conhecer, venha com um 4x4 ou com uma moto leve, jamais com um rinoceronte de quase 300 quilos como os que estávamos montando, mesmo se essa for sua fiel montaria.
 
Ainda na segunda-feira acordei como se tivesse tomado uma surra de cassetete, com todas as partes do corpo moído. Até a próxima, Estrada da Petrobras, desde que esteja asfaltada.

ô~`o

Ricardo 
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