Tiradentes

27-28-29/06/2014


O encontro anual de motociclistas em Tiradentes MG já é tradicional e, aceitando o convite do Cláudio, fui conferir.
Já na estrada encontrávamos longas caravanas, com tribos de todos os estilos de moto, mas uma coisa em comum, predominantemente motos de alta cilindrada.
 


Mas ir direto até o destino seria um desperdício, já que há vários caminhos que levam à Roma e o mais curto raramente é o mais belo. (Acima, uma das igrejas de São Jõao Del Rey.)



Resolvemos sair à caça de curvas. Logo depois de cruzar a divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, saímos da Dutra sentido Engenheiro Passos, Pouso Alto, Itamonte, Caxambu, Baependi... Asfalto bom e muitas curvas, vale a pena.



Fizemos um lanche em Cruzilia e de lá pegamos off da Estrada Real.



A Estrada Real, quando criada pelo Império no século XVIII, ligava Paraty à Vila Rica (Ouro Preto) e Diamantina, para escoar ouro e pedras preciosas. Apenas nesse início tivemos a oportunidade de ter a sensação de como deveria ter sido naquela época: passávamos num túnel de mata fechada com as copas das árvores entrelaçadas em cima, que mal deixavam a luz do sol entrar. Depois disso, só o que se via era pasto e árvores para corte.



Ainda com relação ao trecho na mata, como estava a tempos sem chover, a poeira era alta (e mais fofa do que eu gostaria), com os raios do sol através das árvores, formavam uma imagem de cinema, pena que não temos nenhuma foto.



Partes da Estrada Real se transformaram em rodovias e partes perderam sua importância, pois foram criadas outras ligações entre os pontos de interesse que se mostraram mais eficazes.



Mesmo assim, ela tem o seu valor histórico e visa o turismo.


Foram dezenas de mata-burros longitudinais perigosos que atravessamos.


Estão distribuídos vários totens por sua extensão...


... que sinalizam bem o caminho a ser seguido, mostrando quantos quilômetros faltam para ligar um ponto a outro.


As belas imagens se acumulavam pelo caminho.


Como sempre, fazemos bons amigos pela estrada e desta vez foram o Carlos à direita e seu amigo amigo Marcelo (que não está na foto), ambos de Santos e andam muito... Com eles fizemos o trecho de Carrancas à Capela do Saco.



Quando nos informamos sobre o trecho seguinte que nos levaria até a Capela do Saco, houve um certo desencontro de informações entre as pessoas que nos queriam indicar o caminho. Como estava escurecendo e o tempo era curtíssimo, pois a última balsa partiria às 18 horas, pedimos que nos indicassem simplesmente qual dos caminhos estava mais perto, e apenas nos mostraram a direção, no entanto, não sabíamos que estávamos para passar por um dos trechos mais difíceis de todas nossas aventuras. Seriam 27 quilômetros, dos quais aproximadamente 10 de agonia e êxtase a cada desafio aparentemente intransponível superado.



O pior trecho ainda estava por vir. Em alguns momentos a estrada acabava em cima de lajes de pedra e a direção a seguir não era clara, geralmente se transformava em trilha e desembocava em uma ribanceira de pedras e valetas cavadas pela erosão. Indaguei ao pessoal se tinham certeza de que estávamos no caminho correto, pois à partir dali não haveria mais como retornar. Diante da resposta afirmativa deixei a moto rolar/deslizar pirambeira abaixo, ela praticamente escolheu o caminho que queria fazer, eu apenas tentava manter a parte redonda com borracha para baixo e a parte na qual eu sentava para cima. A situação se repetiu diversas vezes e por várias achei que não conseguiria. Se estivéssemos falando de carros 4x4, eu recomendaria o percurso apenas para 4x4 próprios para fora de estrada, mesmo assim, sofreriam com muitas batidas em baixo e alguns prováveis arranhões. Pensando no que passei na Estrada da Petrobras, estava pesaroso por já ter quebrado todas as promessas que havia feito lá.


Agora em sete motos, com necessidade de apertar o ritmo, quase escuro, subitamente mergulhei numa nuvem de pó mais densa do que o normal. Senti a roda da frente afundar e a moto inclinar para o lado que eu não tenho como corrigir... em frações de segundo estava deitado na areia fofa. Edward e o Gigante me ajudaram a levantar a moto e seguimos em frente.



Durante o trajeto um amigo deixou a moto cair três vezes, as últimas por pura exaustão. O mais ousado da turma estava se divertindo em fazer a roda traseira derrapar nas curvas, até que a roda traseira resolveu ultrapassar a dianteira. Felizmente nenhum dano físico, apenas as malas laterais ficaram, digamos, um pouco tronchas.


Passados uns dez quilômetros mais críticos, notamos que a estrada melhorava e que outras estradas convergiam nela, o que deixava claro que haviam outros caminhos mais fáceis que poderíamos ter prudentemente adotado naquelas circunstâncias. Em cima da hora chegamos à balsa. Alguns momentos de relax e logo o trecho final até São Sebastião da Vitória, com mais 27 quilômetros de terra no escuro com muitos daqueles mata-burros.


Quando chegamos, rebeldes de butique e easy riders cuidadosamente desarrumados olhavam com espanto para nós, completamente marrons. No dia seguinte, nossas motos pingando pó foram uma atração no meio de centenas que pareciam ter saído da loja naquele instante.


No evento, que estava no centro histórico de Tiradentes, haviam tendas com várias lojas na praça, palco com música ao vivo e motos em exposição em estandes da Honda, BMW, Harley Davidson, Yamaha, Ducati, MV Agusta... Acima a Triumph que David Beckham usou em sua travessia pela Amazônia, no estande da marca.


No sábado visitamos a bela São João del Rey e Rodrigo fazia qualquer sacrifício para ter a foto desejada.
 

Eis o resultado. Esta e as próximas três fotos também são de Sâo João del Rey.


A maioria das fotos são de autoria do Rodrigo e do Cláudio, alguma do Gigante e minha.


As fotos nem sempre estão na sequência correta e não necessariamente correspondem aos trechos comentados.


Muitos dos trechos, na minha opinião, com minha experiência limitada e tipo de pneu utilizado, seriam impraticáveis se tivesse chovido. Também não considero o trecho entre Carrancas e a Capela do Saco adequado para motos pesadas, apesar de alimentar um insano e secreto desejo de repeti-lo com mais tempo.



Os trechos de terra que fizemos foram:
Cruzília - Minduri - Traituba, 37 km
Traituba - Carrancas, 31 km
Carrancas - Capela do Saco, 28 km
Capela do Saco - São Sebastião da Vitória, 23
No domingo de manhã saímos sentido Fernão Dias, só que no lugar de ir pela terra, fomos por um excelente asfalto, com muitas curvas até Cruzília, e, quase o tempo todo em sexta marcha - prazeroso e divertido.

Abaixo tem o link do trecho mais difícil, de Carrancas até a Capela do Saco, onde dá para ter uma pequenina noção do que foi. No vídeo não parece nada demais, mas acredite, é bem complicado para motos desse porte.



o~`o

Comments