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Holliwood Rock 14/01/1994

Agito de Verão
 
Quando o 1º show da noite de estréia do Holliwood Rock começou pontualmente às 20hs, com aproximadamente 1/3 da lotação, temi que esta seria a última edição do Holliwood Rock da história.
 
O primeiro show da noite foi dos Titãs, que, ao serem indagados pela folha de São Paulo, sobre o que achavam de estarem abrindo o festival onde o Aerosmith estava comemorando os 25 anos de estrada, responderam com uma arrogância descabida de que na verdade achavam que deveriam estar fechando a noite, pois eram a banda mais importante do Brasil, mas que, por outro lado, estava ótimo pois poderiam ir para casa e dormir mais cedo. O show transcorreu sem sal ou açúcar: cantaram durante uma hora algumas músicas, uma de uma frase só, repetida até ninguém aguentar mais, além de alguns sucessos, pensando que são Deus. Ficaram na posição de deuses, no pedestal, no alto do palco, sem se aproximar da plebe - os fãs.
 
Cabe aqui um parenteses: na véspera do show do Jethro Tull em 08/08/1988, havia uma vibração no ar e qualquer pessoa que gostava de música estava excitada pela expectativa desse show. Nessa época, meu irmão, paisagista, estava preparando o jardim do baterista dos Titãs e meu irmão perguntou se ele iria ao show. A resposta foi negativa, pois ele disse que eles não gostavam. Passei a achar que havia algo de errado com eles, que depois das declarações maldosas, criou em mim uma certa antipatia pelo grupo, por isso, não guardo o nome dos integrantes, nem cito de quem foram os comentários, por não conhece-los. Apesar de saber que são bons músicos, nunca consegui gostar do trabalho deles.
 
A segunda atração da noite foi uma espécie de primo pobre do Guns'n'Roses. Mais uma vez os Titãs foram desagradáveis, e maldosos: antes de deixarem o palco, declararam ao microfone que estava vindo aí um grupo pesado: cada integrante com um quilo de maquiagem, barbudos e sem se depilar.
 
Ao contrários dos deuses brasileiros, o Poison e seu rock poser, mostrou-se muito mais amistoso, com o vocalista e guitarrista correndo constantemente pelas rampas que os colocavam ao alcance das mãos do público. Público este que, por sinal, aparentemente estava apenas esperando os Titãs saírem para começar a lotar o estádio.
 
O Poison animou e homenageou o público com uma boa performance de palco, baladas agradáveis, e uma bandeira do Brasil, com a qual o vocalista se enrolou e cantou algumas músicas.

O Aerosmith, com mais de 2 décadas de estrada e carreira cheia de altos e baixos - diria mais de altos -,  verdadeiros deuses da noite, e a grande  estrela deste festival, entraram no palco às 23:30 hs. A estas alturas o gramado já estava totalmente tomado. Stephen Tyler mal tinha acabado de cantar a primeira frase, com um salto espetacular foi para as rampas para ficar junto ao público. Lá ele se esbaldou. Após a terceira música mandou expulsar os jornalistas e fotógrafos para que tivesse mais espaço nas rampas. Abraçou todos os fãs que conseguiam atravessar os seguranças para lhe cumprimentar, cantou de rosto colado com um segurança, se enxugou em camisetas que lhe eram atiradas, gritou, esperneou, rolou pelo chão, fez  malcriações, gestos obscenos (contudo, um santo se comparado à Madonna ou à Michel  Jackson) e todas aquelas coisas que se vê em vídeos e que a gente pensa ser montagem - por duas horas. Com sua irreverência e simpatia, conquistou até aqueles que estavam lá só pelo trabalho.
 
O vocalista, por seu jeito debochado e irônico - chegou a ser acusado pela imprensa americana de ser mais Jagger que o próprio Mick Jagger - foi e sempre será o grande destaque. No entanto, toda a banda surpreendeu pelo pique, afinal já não são mais garotos. Além do vocalista, o já consagrado guitar hero Joe Perry foi outro destaque.
 
Pena que os Titãs foram dormir mais cedo. Perderam a oportunidade de crescer profissionalmente com uma boa lição de como contagiar o público, através de um mix de boa música, performance de palco, simpatia, humildade e respeito mútuo.
 
Ricardo
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