Olympia - 1995, este foi o primeiro show, que ele fez por aqui, no período em que deixou a Donzela de Ferro.
No dia 16/05/1995 foi vez de conferir o trabalho solo de Bruce Dickinson, um grande vocalista que fez fama num dos grupos de heavy metal mais competentes que já se ouviu falar: Iron Maiden. Eu não ia, mas meu irmão tinha um ingresso sobrando e me convidou a ir assistir.
Havia sido um dia exaustivo de trabalho e eu não tive tempo nem de trocar de roupa, quando chegamos, a porta do Olympia estava bombando, centenas de pessoas de preto, cabelos compridos, jaquetas de couro, botinões, correntes, cintos e pulseiras espalhafatosas, e tinha eu, com roupa social e gravata - definitivamente eu estava chamando muita atenção. Na hora de passar na revista, um negrinho, sem qualquer sentido pejorativo, por favor, bem, ok, vamos para o termo considerado politicamente correto hoje: um afro-descendente de estatura e físico nada avantajados - mas voltando - aparentemente assustado por toda aquela fauna ao seu redor. Ele olhou para mim como se tivesse olhando para um ser de outro planeta, ao me revistar, passou a mão pela minha cintura e sentiu algo estranho - minha prótese - que não fazia idéia do que era, já ressabiado resolveu investigar melhor, desceu a mão pela calça e sentiu um cano, imediatamente levantou branco de susto e o diálogo que rolou foi mais ou menos o seguinte:
- Me desculpe senhor, mas com isso o senhor não vai poder subir.
- Como assim?
- O senhor não pode levar isso.
- Levar o que?
Apontou para a canela.
- Isso!
- Mas, meu amigo, sem isso eu não subo!
- Mas não pode!
- Você não está entendendo...
A estas alturas, percebendo que eu iria resistir, com uma expressão de pânico, começou a procurar ao redor implorando auxílio com o olhar, de algum dos colegas, mas estavam todos ocupados, então, levou gentilmente sua mão até e meu ombro e se espichou, colocando-se na ponta dos pés, para gaguejar ao pé do meu ouvido:
- Va-vamos f-fazer o seguinte: o senhor deixa na chapelaria e quando acabar o senhor pega.
É claro que eu havia percebido o engano que ele cometeu, ao confundir o cano da prótese com o de uma arma, mas eu estava me divertindo muito e resolvi não facilitar a vida do coitado. Meu irmão que já havia passado pela revista, estava a alguns passos assistindo a cena às gargalhadas. Fui enfático:
- Deixar na chapelaria? Sinto muito, mas isso não será possível!
- M-mas senhor....
- Só um momento, por favor.
Resolvi parar de jugiar dele, levei as mãos na direção da canela para levantar lentamente a perna da calça até a altura do joelho, o rapaz se afastou quase que num salto, mas quando viu que se tratava de uma perna mecânica, ele se transformou, levou as mãos à cabeça e, contorcendo-se todo, quase ajoelhou aos meus pés pedindo:
- Pelamordedeus, o senhor me desculpa, eu não sabia, desculpa, senhor, me desculpa...
Que sacanagem a minha...
Quando as luzes do palco se acendem, a primeira impressão que se tem é de que ele montou a banda com uns Menudos de visual predominante grunje. O baixista com cara de bebê gordinho, loirinho e cabeludo, e o guitarrista também muito jovem. O batera já parecia ter uns 30. Alguns colegas afirmaram que o baixista provavelmente ainda não possuía pelos na região pubiana. Piadas à parte, seu talento deixou à desejar. Em compensação, o guitarrista, apesar de as vezes um tanto noise, chegava a lembrar Jimi Page. Quem o observava não acreditava que saia tanto som só daquela guitarra. Executou solos elaborados e complicados, com uma desenvoltura e postura de palco, dignos, de quem já está pela casa dos 50.
Quanto a Bruce, vai entender, deixou o Iron no auge, falou na entrevista coletiva que não ia cantar músicas de seu antigo grupo, pois não era Ozzy Osbourne (ex-vocalista do Black Sabbath) para ser cover dele mesmo, e no bis, apesar do apelo em coro da platéia, resistiu! Não cantou música do Iron, mas cantou Sabbath Bloody Sabbath, um dos super clássicos do Black Sabbath. Diga-se de passagem que satisfez tanto quanto se fosse uma do Iron.
O estilo não mudou muito, mas sem os excepcionais integrantes do Iron Maiden, no mínimo, empobreceu. Acostumado a palcos de estádio enormes, confinado a poucos metros de um tablado de casa noturna, parecia mais com um animal enjaulado. Ao lado da bateria haviam dezenas de copos plásticos cheios de água, e no lugar de correr de um lado para o outro (por falta de espaço), teve mesmo que se contentar em ficar jogando água no povão.
Foi um show médio, mas que valeu pelo talento daquele fantástico jovem guitarrista. Roy Z (Ramirez) Los Angeles, nascido em fev/68, além de músico também é produtor e produziu alguns discos de Bruce em sua carreira solo, Rob Halford e de mais um monte de gente de alto calibre.
Ricardo Koetz
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