11/06/2013 - WTCB Golden Hall No mesmo dia em que fui comprar o ingresso do BMW
Jazz Festival, também fui comprar o Best of Blues Festival, cuja proposta do
espetáculo era semelhante: 3 a 4 dias de shows com basicamente três bandas por
dia, no entanto, tomei um susto enorme. Enquanto que o Setor 1 do BMW Jazz
custava R$ 140,00 a inteira, um lugar equivalente no Best of Blues custava R$
1.200,00!!! Comprei um dos poucos lugares mais baratos que existiam e
profetizei, isso não pode dar certo, e não deu! Como se tratava de uma casa de espetáculos que eu
ainda não tinha frequentado, acessei o site no dia do show e descobri que o show
do dia 10 havia sido cancelado e as atrações desse dia iriam tocar junto com as
atrações do dia seguinte, o ingresso valeria para o dia seguinte e que nós, do
dia 10, seríamos remanejados para lugares melhores, e quem ainda
quisesse adquirir ingressos, receberia um desconto de 40%. Bom, estava claro,
havia ocorrido um fracasso de vendas e para evitar o constrangimento para os
músicos de tocarem para uma platéia de meia dúzia de gatos pingados, juntaram
dois dias em um, para dar um pouco mais de volume. Quer saber? Gostei! O
paulistano que normalmente paga preços exorbitantes para espetáculos que em
outros estados custam a metade ou menos, dessa vez disse não. Também fiquei decepcionado com o local, é um
shopping D&D enorme, com duas torres comerciais, que fica entre a Marginal
Pinheiros e a Berrini, que tem o modesto nome de World Trade Center Brasil. Não
menos modesto, o show foi no Golden Hall (uau!) que, apesar do suntuoso nome, de
dourado não tem nem as maçanetas. Na prática é uma cúpula grande, feia, pintada
de branco e com todos os dutos e canos de refrigeração e eletricidade à vista,
que mais parecia uma câmara de eco. As cadeiras eram almofadadas - pelo menos
não eram de plástico -, amarradas umas as outras com enforca-gato, dispostas em
blocos, que formavam os setores. Cadeiras apertadas para quem era magro, se dois
obesos sentassem um do lado do outro, teriam que decidir que ficaria no colo primeiro. Segundo a organização, estavam disponíveis 2.500 lugares, todas num piso de um nível só, por sorte, o palco tinha uma altura aproximada de 1,70m. Outra grande decepção foi o estacionamento, as três
primeiras horas custavam R$ 35,00 e mais sei lá quanto a hora adicional. Ninguém
informou que se eu pegasse o ticket da cancela, ao invés de entrar com o sem
parar, ao pagar e dizer que fui ao show, pagaria "apenas" R$ 30,00 e não o
custo exorbitante que pagarei na fatura que virá no final do mês. Em resumo, o
lugar é ruim em todos os sentidos.
Shemekia Copeland Com 20 minutos de atraso e muitos lugares ainda
vagos, essa Nova-iorquina do Harlem, subiu no palco com um grande peso nas
costas: ser filha do cantor e guitarrista Johnny Copeland e de ser considerada a
atual herdeira do título de rainha do blues, no posto de mitos como Ruth Brown,
Etta James e Koko Taylor. Acima o guitarrista Arthur Neilson. Alternou músicas meio funkeadas com outras
de puro blues, além de um eletrizante gospel típico das igrejas de New
Orleans. Ela simplesmente arrasou com sua voz de negrona. Durante uma das
primeiras músicas, abandonou o microfone e soltou seu vozeirão que podia ser
ouvido alto e claramente por todo o Golden Hall. Cantou por menos de uma hora,
mas foi muito bom.
Dr. John
Com uma carreira repleta de desafios, misticismo, superação e muita música, é dono de sete Grammys e um prêmio de melhor disco de blues conquistado este ano. No início de sua carreira, teve um acidente que lhe
danificou seriamente a mão e acabou deixando o seu instrumento principal, a guitarra, em segundo plano e toca mais o piano. Desde muito jovem, frequentou a vida noturna de New Orleans, recheada de
prostitutas, cafetões, ladrões e viciados. Não demorou muito para ter contato
com todo tipo de droga e se tornar viciado em heroína, que conseguiu deixar
apenas em 1989, depois de ter problemas cardíacos. Logo em seguida, em 1990,
passou por problemas psiquiátricos, atualmente encontra-se sóbrio e mentalmente
estável com a ajuda de medicamentos. Com seus patuás e amuletos, fez um show com um
repertório que abrangeu vários períodos de sua carreira, além de clássicos como
Let the Good Times Roll e I just Want to Make Love to
You. Um destaque especial para a trombonista Sarah
Morrow, além de dar um show, era a líder, o tempo todo regia a banda,
determinando o início, fim das músicas, sequência de quem iria solar e marcando
o tempo. O trombone tinha tanto destaque quanto a guitarra e contribuiu muito
para criar um clima New Orleans e, às vezes, meio soturno. Muito
bom!
Taj Mahal
Formado em agricultura pela faculdade de
Massachuscetts, esse multi-instrumentista, filho de um pianista, arranjador e
compositor de jazz, de origem caribenha e de uma professora e cantora de gospel,
engrenou sua carreira em Los Angeles ao tocar com lendas como Muddy Waters, Otis
Redding, entre outros.
O show começou com músicas de influência africana e
caribenha, mas ele arrepia mesmo quando toca blues, o clima muda e arrebata quem
está ouvindo.
Buddy Guy Com a junção de dois dias de show em um só, acabei
ganhando, tive a oportunidade de ver novamente Buddy Guy tocando, pois ele
não estava programado para o primeiro dia. Em contrapartida, todos os shows devem ter sido encurtados e não houve nenhuma jam no final. Nascido na Louisiana em 30 de julho de 1936 - hoje
com praticamente 77 anos - ganhou seis Grammys e é o que se pode chamar de
entertainer. Com grande carisma, canta, toca pra caramba, faz
gracinhas, agita a galera e causa euforia a todo instante. Logo numa das músicas
iniciais, dispensou o microfone e soltou seu vozeirão - foi demais. Uma boa definição dele foi feita por Jon Pareles, crítico do New York
Times, em 2004: "Mr. Guy, mistura anarquia, virtuosismo, blues denso e suas
vertentes de uma maneira única, prendendo a si todas as atenções da audiência
(...) Guy adora extremos: mudanças repentinas entre sons pesados e leves, ou um
doce solo de guitarra seguido por um surto de velocidade, ou peso, improvisando
idas e vindas com a voz... Seja cantando com doçura ou raiva, seja trazendo
novas entonações a uma nota de blues, ele é um mestre da tensão e do
relaxamento, e sua concentração e dedicação são hipnotizantes." Ainda muito rápido, também tocou I Just Want to Make Love to You, mas, para ela, fez
uma versão bem funkeada. Se a corda arrebenta, não tem problema, substitui a
palheta pela corda e toca dando chicotadas nas cordas restantes. Acima Buddy faz
um duelo com esse eletrizante tecladista, Martin Sammon, um absurdo o que ele
toca. Gente finíssima, antes de o show começar, ele estava checando o palco e um
fã pediu uma foto com ele, para ficar na mesma altura do fã, deitou no chão do
palco. Este que serviu de inspiração para Jimi Hendrix,
Eric Clapton, Jimmy Page... e teve suas músicas regravadas por tantas
bandas, homenageou guitarristas como John Lee Hooker, tocando a introdução de
Boom Boom, depois falou do bom amigo Eric Clapton e tocou partes de Strange Brew
e Sunshine of Your Love (ambas do Cream), e um trecho de Voodoo Child do Jimi
Hendrix, voltando para Sunshine... dando chicotadas nas cordas, dessa vez com
uma toalha. Causou um tumulto enorme quando desceu do palco
para andar entre a plateia. Depois disso, seguranças tiveram trabalho para
manter a ordem, pois ninguém mais queria voltar para seus lugares e as pessoas
ficaram amontoadas nas laterais do palco. Um novo início de tumulto (saudável),
ocorria sempre que ele se dirigia para um dos cantos, onde normalmente
distribuía palhetas. Longa vida a essa lenda do blues.
Os shows duraram entre 50 minutos e aproximadamente
1h15, e as atrações das noites seguintes, além de algumas que tocaram também
nessa, foram John Mayall, Nuno Mindelis e Chris Cornell, mas, devido ao custo elevado dos ingressos, não compareci e não sei como
foi a presença de público. Ricardo
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