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2022

Iron Maiden – 04 de setembro de 2022 – Estádio do Morumbi

Espetáculos em grandes arenas a céu aberto tem vários inconvenientes. Para quem vem de carro, começa com a dificuldade para se estacionar e os consequentes preços extraordinariamente abusivos, que neste dia, em alguns lugares próximos ao estádio, extrapolaram a estratosfera dos 200 reais por veículo; formam-se filas imensas para praticamente tudo, principalmente os nauseantes banheiros químicos para atender o público que fica no campo; passa-se várias horas de pé ou mal acomodado; qualidade de som ruim por causa da acústica prejudicada pelas proporções do local; mais de 80% dos presentes mal enxergariam o que se passa no palco, se não fosse pelos telões; grande dificuldade para sair após o término do evento; além da possibilidade de mal tempo, que sempre nos assombra do momento em que nos decidimos pela comprar do ingresso até o dia do show. Mas, como digo sempre, alguns espetáculos monumentais como esse, ou a gente se sujeita ou fica sem ver.


Eu já estava acostumado e plenamente consciente de tudo isso, mas nesse dia, havia um detalhe novo. Ao me preparar para sair, no lugar de escolher a camiseta que iria vestir para orgulhosamente homenagear alguma banda ou passar algum recado, eu escolhia cuidadosamente as peças de roupa que poderiam me manter o mais aquecido possível, dos pés à cabeça, pois estavam previstos para a noite gélidos 13 graus célsius, com vento e probabilidade de chuva. Temperatura que gerou comentários de espanto dos vocalistas das bandas sueca e britânica durante suas apresentações.


Mas ainda tinha mais. O estádio do Morumbi possui tradição e há praticamente duas décadas oferece um certo número de vagas de estacionamento para portadores de deficiência, mas neste dia não estavam disponíveis, pois algum imbecil organizou a fila de acesso das cadeiras inferiores bem no lugar das vagas. Eu só consegui parar dentro depois de muita espera e uma longa e diplomática discussão, mas acredito ter sido o único que consegui esse feito. 


Surpresa desagradável final: talvez em função do mau tempo, alguma alma caridosa decidiu agrupar os deficientes de diversos setores em apenas um, coberto, protegido principalmente da chuva e parcialmente do vento, numa área que ficava no anel lateral do estádio. Contudo, esqueceu-se de providenciar cadeiras, o que fez com que aproximadamente 40 pessoas, entre deficientes e acompanhantes, tivessem que esperar por até três horas de pé!!!. Fazia muitos anos que eu não encontrava tamanha desorganização em um show, já que deficientes têm seus direitos há muito tempo definidos e são parte frequente do público pagante e todos os espetáculos já se adaptaram a isso.

Vamos então finalmente ao show


Avatar foi a banda de abertura. De origem sueca, apresentaram um repertório que alternava músicas vigorosas com momentos de calmaria. O timbre de seu vocalista em alguns momentos lembrava Geoff Tate (ex-Queensrÿche) e em outras o satírico vocal do Massacration. Alguns solos, principalmente quando feitos com guitarras gêmeas, me agradaram bastante, mas a falta de familiaridade com suas músicas não me permitiram ter uma opinião formada sobre a banda. Posso afirmar, no entanto, que nunca havia visto uma banda com um headbanging tão impressionante, praticamente em todas as músicas, durante as partes mais aceleradas, eles giravam a cabeça fazendo com que as vastas cabeleiras de quatro integrantes parecessem pás de um ventilador gigante girando em alta velocidade.

Iron Maiden


Começa a tocar Doctor, Doctor, Please do U.F.O. que o Iron Maiden usa há muito tempo para anunciar que seu show está para começar. Olhei ao redor e constatei que nunca havia visto o Morumbi tão lotado. Estimou-se um número próximo a 70 mil pessoas presentes.

Eu já perdi a conta da quantidade de vezes que havia visto o Iron Maiden, mas para meu filho Nicolas esta seria a primeira vez e para a Gláucia a segunda, sendo que aqui também havia um fantasma que nos rondava. Na vez anterior, 2011, em que a Gláucia esteve presente nesse mesmo estádio, a qualidade de som na pista, não importando a posição, estava péssima. Falei com amigos que não vieram desta vez, justamente por isso.


Apreensivo, o show começou. O vento fazia com que o som ficasse ora mais abafado, ora mais cristalino, dependendo do rumo que tomava, mas posso dizer que no local em que nos encontrávamos a qualidade foi bastante satisfatória. 


Solos precisos e melodiosos de Dave Murray e Adrian Smith, deixam claro que a principal banda de Heavy Metal do mundo está com suas engrenagens perfeitamente azeitadas e continua funcionando com a precisão de um relógio suíço.


O mascote Eddie vestido de samurai, andando pelo palco empunhando uma espada, reforça a parte cênica da apresentação. O palco está com uma temática japonesa baseada em seu último álbum, Senjutsu, do qual tocam três músicas. The Writing on the Wall já se mostra como um futuro clássico.

O cenário muda e o desfile de clássicos começa com Revelations.


Dave Murray em mais um solo inspirado e preciso.


Foi com enorme alívio que vi Bruce Dickinson perfeitamente bem, depois de ter travado uma luta contra um câncer que tomava parte de sua língua e pescoço em 2015. A voz me pareceu perfeita.

Janick Gers com suas poses e performances.

Iron Maiden tem clássicos demais, nada de perder tempo com distorções irritantes de guitarra ou solos desnecessários de bateria, mas nem por isso Nikko Mackbraian perde em importância para qualquer membro mais exposto da banda.


Em cena Flight of Icarus...


... com Bruce Dickinson se divertindo com um lança chamas.


O coro dos presentes em Fear of the Dark foi ensurdecedor.

Cena que dispensa comentários...


Para oxigenar um pouco o repertório dos clássicos, foram colocadas músicas dos álbuns menos consagrados como Brave New World, The Factor X e Virtual XI.


O líder Steve Harris fuzilando todo mundo com seu baixo em The Number of the Beast.


E surge uma enorme besta inflada no fundo do palco, movimentando a cabeça.


The Trooper...


Bruce mostra suas habilidades de espadachim numa batalha de vida ou morte com o monstro Eddie.


No final, liquida o inimigo com dois tiros de bazuca, ou seja lá o que for aquilo que está empunhado.

O primeiro bis vem com The Trooper, The Clansman e Run to the Hills. 


Infelizmente, nada mais atual do que isso nos tempos eu que vivemos.


Encerram o show no segundo bis com Aces High. A diferença deste show para o do Rock in Rio dias atrás é que fecharam com Run to the Hills.

Grande espetáculo!
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