10/05/2014 - WTC Brasil Golden Hall
Depois de dormir apenas pouco mais que 4 horas,
recarreguei as energias dando um rolezinho de 600 quilômetros de moto, http://www.bluesrockshow.com/-perna-de-pau/campos---itajuba---lorena, passando
por cidades de três estados e fui direto para o show, recarregar novamente as
baterias, só que de outra maneira. Como tive que vir direto, o que não estava
nos planos, não tinha um chip de memória extra para as fotos do show, o que me
obrigou a ser extremamente econômico com as fotos e praticamente nenhuma
filmagem. Quando cheguei, a cantora Céu já estava no palco,
mas como encontrei o Nuno Mindelis e mais alguns amigos no hall de entrada, não
assisti todo o show dela. Devo dizer que ouvi coisas que achei interessantes e
outras que achei bem chatinhas... A organização do festival acabou fazendo uma
salada, o primeiro dia foi de blues, ok, mas provavelmente com o
patrocinador querendo garantir a bilheteria, o segundo dia tinha a Céu que
estava mais para um MPB / World Music, a Joss Stone (na foto
acima), uma espécie de soul pop e Jeff Beck que foi bem rock'n'roll. No domingo
ficou estranho de vez, Aloe Blacc (hip-hop, soul, folk...), com Marcelo D2 e
fechando com o som super legal do grande talento de Tombone Shorty. Sugiro que o
festival seja rebatizado para Pop & Blues, para que não se torne algo
descaracterizado como o Rock in Rio que já devia ter mudado para Pop in Rio há
muito tempo. É simples, o pop pode tudo, daí fica tudo certo e
ninguém reclama. Além de linda, a simpatia de Joss Stone
é contagiante, acompanhada de uma ótima banda e backing vocals
de peso, esbanjou sensualidade e musicalidade. A organização do show
conseguiu manter tudo numa certa ordem até o início da segunda música, quando
Joss pediu que as pessoas ficassem de pé e dançassem. Foi mimada pelo público e retribui com muito
carinho e sorrisos constantes. Em um de seus hits, pôs o microfone para a galera
cantar e apareceu uma garota de voz idêntica que cantou quase todo o resto da
música, roubando a cena. Jeff Beck Eita resenha difícil essa, com praticamente 70
anos, falar de forma sucinta sobre Jeff Beck não é fácil, para complicar ele
está sempre rodeado de músicos que merecem tanto destaque quanto ele.
Curiosamente o release do festival
anunciava como músicos a super baixista Rhonda Smith que se tornou conhecia por
acompanhar o asqueroso Prince. Completariam o time o guitarrista Nic Meier,
Jonathan James na bateria e Lizzie Ball no violino. Bom, não teve violino, muito
menos veio algum dos músicos mencionados. O que seria um quinteto ele
transformou num trio, sendo que em algumas vezes um vocalista integrava o
time. Talvez pelo blues no nome do festival ele
tenha feito um ajuste na banda para isso, será? Qualquer que seja o
motivo, tenho a impressão de que saímos ganhando, e muito. No baixo veio a
espetacular Tal Wilkenfeld, nascida na Austrália, já considerada um fenômeno no
instrumento desde aos 18 anos, de lá para cá já tocou com Chick Corea, The
Allman Brothers Band, Gov't Mule, Eric Clapton, Sting, para citar apenas
alguns. É impossível ver o seu jeito menina de tocar e não
se apaixonar, geralmente se divertindo muito, está sempre com um sorriso aberto.
Quando as coisas ficam mais difíceis faz biquinho e franze a testa e quando está
no meio termo morde o lábio inferior e com meio sorriso maroto manda ver. Além
de muito talentosa, Jeff a classifica como "gênio", conversa com ele de igual
para igual, dá sugestões e cria soluções inesperadas de improviso. Um exemplo
foi quando ele estava sendo indicado por Jimmy Page (Led Zeppelin) para o
Rock'n'Roll Hall of Fame em que Jeff iria tocar Beck's Bolero, mas que não lhe
parecia correto ter Jimmy no palco fazendo apenas a base para uma música dele
(foram colegas no Yardbirds). Conta que nesse momento tocou o telefone e Tal lhe
disse que deveriam mesclar a música com Immigrant Song, dez minutos depois
estavam subindo no palco e o resultado desse petardo dá para ser visto nesse
link: https://www.youtube.com/watch?v=xoPUDOgcFWY Train
Kept a Rollin (do tempo dos Yardbirds) que vem na sequência, além de uma
constelação de guitarristas, tem James Hetfield nos vocais e Lars Ulrich na
bateria, ambos do Metallica - fantastico!
O baterista que veio, Vinnie Colaiuta, é um gigante
do instrumento. Steve Vai conta que Frank Zappa escrevia partituras que às vezes
podiam ser tocadas, outras vezes não. Zappa havia escrito uma para a bateria que
Steve considerava impossível, mas Vinnie tocou, lendo-a, ajustando o óculos com
o indicador, virando a página com a outra mão e ainda comendo sushi que estava
numa bandeja do lado, tudo sem interromper a execução. Diz que foi uma das
coisas mais absurdas que viu na vida, Terry Bozzio, outro monstro imaculado
desse instrumento saiu da sala inconformado. Além de Zappa, a lista de músicos com os quais tocou é quase infinita, entre
eles, uma turnê famosa do Sting. Bom, voltando ao show, mesmo sem repetir nenhum
solo, seguindo por caminhos inesperados, fez um show muito palatável, que fluiu
numa rapidez incrível. Trouxe o vocalista Jimmy Hall que tem uma voz rasgada bem
rock'n'roll, que casou bem demais com as músicas que cantou. Para cantar I Put a Spell On You, veio para o palco
a Joss Stone que causou um certo alvoroço. Em seguida, para não deixar a bola
cair, entrou com uma sequência de Hendrix com Little Wing, Foxy Lady e Manic
Depression, em seguida, não faltou o seu maior hit People Get Ready, com Jimmy
Hall mandando muito bem nos vocais. Quando pensei que as surpresas haviam se
encerrado, surge a adorável Tal CANTANDO You Shook Me, revelando uma bela voz
rouca, com Jimmy tocando gaita. Foi incrível. Antes de encerrar tocou lindamente A Day In The
Life dos Beatles e fechou o show com Wild Thing. Aos 8 minutos do link à seguir,
tem You Shook Me, gravada pelo novo amigo Nelson Rocha, mostrando um pouco do
talento de cada um desses músicos fantásticos, com explosão do baterista, a
gaita de Jimmy, o solo de Jeff e a voz dessa adorável baixista. http://youtu.be/DhpftePmBNo Se alguém se interessar, mande-me
um e-mail que eu enviarei o link para o restante das gravações do Nelson, desse
festival. Apenas 4 dias depois, no Royal Albert Hall em Londres, Jeff Beck fez um show com um repertório
bem diferente. Talvez o repertório do show aqui tenha sido mais simples, mas
acho que foi muito mais empolgante. Na saída ainda acabei encontrando uma das maiores
autoridades da Fórmula 1 do Brasil, o comentarista Reginaldo Leme (que é irmão
de Dinho Leme, o primeiro baterista dos Mutantes). Foi muito gentil comigo, eu
tinha inúmeras perguntas para ele, poderia passar horas conversando, mas achei
que não era o momento adequado para isso, além do que essa foto foi o último
suspiro da bateria de minha máquina fotográfica. Ao fundo o Luiz Sacoman da
banda Plexiheads.
Ricardo |