31/10/2013 - Credicard Hall Se formos buscar expoentes da música, para citar um só, certamente podemos citar Beethoven na música clássica, B.B. King no Blues, Iron Maiden no Heavy Metal, Chico Buarque na MPB e assim por diante. Apesar de cada um ser mestre no que fez ou faz, o público é segmentado e raramente uma mesma pessoa consegue assimilar os diversos estilos. Em contrapartida, existem alguns poucos músicos que conseguem uma grande proeza, cativar pessoas independentemente do seu gosto musical. Um magnífico exemplo é Loreena McKennitt, canadense filha de pais irlandeses. Ela mistura, com uma maestria ímpar, instrumentos aparentemente incompatíveis como os clássicos violino, piano, harpa e vilão-celo, com a guitarra, baixo e bateria, típicos do rock, com instrumentos medievais curiosíssimos que eu mal conhecia. Ah, isso sem esquecer do principal, a voz divina dessa jovem senhora. Hugh Marsh, o que esse violinista toca é um absurdo, fez solos lindos, solos velozes e duelos com o guitarrista e outros instrumentos. O fruto desse banquete sonoro é difícil de ser rotulado, há um tempero meio celta, meio marroquino, com pitadas de música clássica, folclórica irlandesa e até um pouco de rock progressivo. O fato é que consegue agradar a qualquer pessoa que tenha ouvidos e um mínimo de sensibilidade, não importando a sua formação cultural, étnica ou musical. Atrás de Lorena, Ben Grossman toca o Hurdy Gurdy,
um curioso instrumento de corda que funciona com uma manivela que ele gira
constantemente e botões que pressiona com a mão esquerda.
Fico sempre ligado nos sites de divulgação de shows, mas como este não se trata exatamente de “rock”, bobeei e perdi o primeiro dia de vendas, quando fui comprar os ingressos já estavam quase esgotados. Acabaram abrindo um show extra que aconteceu um dia antes e o inacreditável aconteceu, a lotação da casa, segundo um segurança foi de uns 30% e o pessoal que pagou pelos ingressos mais baratos na platéia superior se deu bem, foi transferida para a parte de baixo e a platéia superior foi fechada. Acredito que a falta de divulgação tenha sido responsável pelo fracasso. Ian Harper que, além do clarinete e flautas, toca também a gaita irlandesa, uma espécie de gaita de fole, mas que é bombada pelo movimento de abre e fecha do braço.
Pouco antes de o show começar, era anunciado que a artista pedia que não fossem feitas imagens de qualquer natureza durante seu show, que haveria um momento apropriado para isso na segunda parte do show. Os leões de chácara estavam atentos e assim que detectavam alguém apontando um celular que fosse, eles direcionavam lasers e faroletes em quem desobedecia. Fiquei bastante chateado e achei uma falta de respeito com o público não terem colocado nem os telões para que pudéssemos ver melhor alguns detalhes.
Ela tocou por praticamente uma hora e quando a primeira parte do show terminou, Loreena agradeceu a nossa obediência e comentou que haveria uma música logo depois do intervalo em que poderíamos ficar “flashing around”. Acabou fazendo-me lembrar de meu casamento, quando chegamos no altar o padrre alemon Guilherme, amigo da família, olhou para o fotografo e exclamou em tom de gozação: - Vejo que trrouxe un capeta con você. Olhei espantado com cara de interrogação. - Sabe porr que eu os chamo de capetas? Ele mesmo respondeu, em voz bem alta, com pulinhos, fazendo o gesto de uma lança sendo atirada na direção dos padrinhos. - Porrque eles fican pulando de um lado parra o outrro atirrando RAIOS na gente! Em seguida abriu um largo sorriso.
A segunda parte de mais uns 45 minutos começou e milhares de dispositivos de captura de imagem foram direcionados para ela e os raios foram lançados impiedosamente, mas ainda não era Santiago, a música permitida - uma das mais belas, o que gerou uma confusão e tanto entre os seguranças e nós.
Quando The Mystic's Dream terminou, Loreena começou um longo discurso em que dizia que gostava de ficar no palco tocando para o silêncio e o escuro, o que permitia que ela e os músicos se focassem totalmente na música e que, se ficam piscando flashes, luzinhas vermelhas, etc. ela ficava chateada, pois tinha a impressão de que todo aquele esforço que eles estavam dedicando ao público não estaria sendo devidamente valorizado. No fim, desculpou-se por ser uma pessoa que ainda não estava preparada para a tecnologia. Pediu que depois da música que iria tocar, todos guardassem seus dispositivos fotográficos no bolso novamente. Querida Loreena, quando estamos fotografando, não estamos deixando de dar importância no que você está fazendo no palco, muito pelo contrário, é uma tentativa desesperada de perpetuar momentos mágicos em nossas vidas e revivê-los a cada vez que olhamos novamente para estas imagens. Entendeu?
A limitação do uso da máquina fotográfica nos privou de capturar imagens fantásticas com Loreena se revezando entre a harpa, o piano e seu acordeom. Os outros músicos também trocavam de instrumentos, mas o que mais lamentei foi não poder registrar os duetos vocais que ela fazia com a bela Caroline, que tem uma voz mais grave e casa muito bem com o agudo extremo de Loreena.
Caroline autografando meu panfleto.
Quando ela termina as músicas para sair para a segunda parte, para o bis ou no final, os músicos se retiram tão rapidamente do palco que mal dá tempo para focar a máquina em qualquer direção. A tradicional reverência ao público não ocorreu. Quando eu já me encontrava quase na saída, alguns músicos voltaram ao palco no meio dos roadies que o desmontavam, e começaram a autografar e conversar com os que ainda estavam presentes, e mais importante que isso, Caroline estava entre eles, fui até ela, sempre com um sorriso largo no rosto, muito simpática, não saiu de lá antes que todos que quisessem tivessem ganhado um autógrafo. Os outros músicos mais importantes também estavam lá, solícitos, até mesmo o sério violinista Hugh Marsh que não olhou para o público nenhuma vez, tocando voltado totalmente para a banda, sempre. Saí feliz com os autógrafos de Caroline, Hugh Marsh e do guitarrista Brian Hughes. A direita de Marsh está Ian Harper, tem ainda o baterista Rick Lazar.
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