MICRÓBIOS E MONSTROS
A segunda edição do MONSTERS aconteceu novamente no Estádio do Pacaembú, exatamente 1 ano e cinco dias após o primeiro (02/09/95). Dessa vez, com o estádio reformado e um pouco mais organizado.
Entre Faith No More, Megadeth e outros grupinhos completamente desconhecidos, o que interessava mesmo ver eram os Monstros da noite: Tia Alice e Ozzy Osbourne.
O mais mau dos garotos maus do rock, Alice Cooper, cujo nome artístico herdou de uma personagem, uma bruxa, que era queimada viva numa peça nos tempos de faculdade, cumpriu bem o seu papel. Com o palco meio espremido pelos equipamentos de Ozzy que estavam cobertos ao fundo, Alice usou um cenário simples, muita caixa de madeira, latas de lixo amassadas, uma parede feita de tábuas pichadas com uma caricatura de Alice; tudo lembrando um beco obscuro do Bronx.
Na estrada desde o final dos anos 60, entrou dando logo o que o público queria, tocou I'm Eighteen, Billion Dollar Babies, No More Mr. Nice Guy, entre outras. Depois veio uma sequência de músicas de seu último álbum (um tanto manso, por sinal, falta das drogas?). Na parte intermediária, como não poderia deixar de ser, interpretou uma pequena peça teatral, onde o pai do rock horror nos deu boas vindas ao seu pesadelo. Tudo começa com uma briga de rua entre duas gangs rivais, Alice e dois guarda-roupas de um lado, uma loirinha e dois caras maus de outro. A garota é dominada e executada numa cama de torturas, Alice se apaixona por ela, que ressuscita, trocam bofetões, vem o pessoal do manicômio, Alice é posto numa camisa de força, maltratado e torturado numa cadeira elétrica. No final usa a camisa de força como arma para estrangular a enfermeira. Só mesmo a famosa guilhotina ficou em casa. Que pena! Durante a encenação rolaram Go to Hell, baladinhas como Only Women Bleed, entre outras. Durante a apresentação da banda a enfermeira passou assustada pelo palco e foi expulsa aos pontapés - detalhe, todos os papéis femininos foram interpretados pela filha dele.
No final, tocou a maravilhosa Schools Out, e esbanjou hipocrisia no bis com Elected, onde voltou com uma camisa da seleção brasileira, distribuiu sorrisos e material de campanha. Curiosamente, apesar de uma lata de lixo enorme na qual estava o nome de seu penúltimo álbum Trash, e de todo o lixo existente, não tocou nenhuma música desse excelente trabalho.
O segundo e último monstro da noite, Ozzy Osbourne, é um dos expoentes entre as grandes vozes do rock (que não são muitas), e fundador do Black Sabbath, que divide com o Led Zeppelin e Deep Purple, o título da mais criativa banda de Hard Rock dos anos setenta.
Quem ouviu Ozzy no Rock in Rio há 10 anos atrás, garantiu que a sua carreira estava encerrada. Tanto ele quanto a voz se encontravam num verdadeiro farrapo.
Recuperado das drogas, sem comer pombos, morcegos ou criancinhas, presenteou-nos com um trabalho exemplarmente profissional. Com um palco limpo, apenas uma bateria no alto com dois indecifráveis blocos aparentemente de metal que mediam aproximadamente 3 x 5 m., um de cada lado, e embaixo o palco livre.
Como abertura do show foi exibido um vídeo hilariante nos telões com montagens enxertando a imagem de Ozzy em trechos de vídeos famosos, como um de Madonna onde ele aparece com uma peruca loira fazendo macaquices, aparece jogando roupas íntimas em cima de uma mesa onde Clinton está fazendo um discurso, aparece cantando com Elvis e os Beatles, etc.
O show começa com o peso dos sucessos dos anos 70 no Black Sabbath, onde os dois estranhos "monolitos" ao lado da bateria se transformam em telões de alta resolução, que mesclaram durante todo o show imagens de palco com imagens de vídeo.
Depois de várias noites de temperatura agradável e quatro meses sem chuva, a exemplo do show do ano passado, fez um frio de rachar e a garoa também se fez presente. Como para um inglês, esse clima é o normal, Ozzy chutou o pau da barraca logo durante a primeira música: pegou um balde cheio d'água, derramou a metade sobre a própria cabeça e meio desajeitado tentou jogar o resto no público, no entanto, o impulso não foi suficiente, e banhou mesmo os fotógrafos e seus equipamentos que estavam no balcão do palco.
Tocou músicas de seu último disco, classicassos e também os hits do Bark at the Moon. Cometeu apenas um erro grave: no momento em que Sabbath Bloody Sabbath se torna mais acelerada e exige mais da sua voz, ele fez uma espécie de pout porri de antigos sucessos e emendou com Iron Man, o que prova o que todos já desconfiavam - os agudos mais radicais ficaram no passado.
Por falar em Sabbath, tivemos a oportunidade de ver pela terceira vez o monstro do baixo Geezer Butler, tocando no Brasil. Só para refrescar, na primeira vez com o Black Sabbath, comandado pela exuberante voz de Ronnie James Dio, na segunda, no ano passado no próprio Monsters, também com o Black Sabbath, só que com o menos brilhante Tony Martim nos vocais, e agora com Ozzy.
Foi um show impecável, não fosse o som do baixo que praticamente não se ouvia e um dos telões que, de vez em quando, saia do ar. Mostrou um novo Ozzy, que se divertia como uma criança, jogando incansável baldes e mais baldes de água no povão e quem estivesse pela frente. Não satisfeito com os baldes, tinha na frente do microfone uma pistola de água do tipo lava-jato, para "refrescar" a moçada. Apagou aquela imagem de um ser chapado que mal conseguia erguer os braços, cambaleando pateticamente de um lado para o outro do palco, como é possível ver em vídeos não muito distantes dos dias de hoje. Sorte nossa!
Ricardo Koetz
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