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Eric Burdon - Coco Montoya - Celso B.B.

Uma Noite Azul - 27/05/1994 Palace

 

Com o Blues cada vez mais em evidencia, de uns anos para cá temos tido a oportunidade de assistir a alguns grandes festivais.

 

O primeiro ocorreu no interior de São Paulo, mais precisamente no ginásio esportivo de Ribeirão Preto, depois veio ao Ginásio do Ibirapuera (muito grande, não chegando a lotar) e agora foi a vez de uma pequena elite se deliciar nos apertos do Palace.

 

Sempre com grandes nomes como  Koko Taylor, Magic Slim e muitos  outros, desta  vez não foi diferente: trouxeram nomes como Robert Cray, Ronnie Earl, Big Time Sarah e outros. O Brasil, diga-se de passagem, estava muito bem representado por Nuno Mindelis, Celso Blues Boy, Blues  Etílicos e Big Allanbik.

 

Fora desses grandes festivais, de vez em quando dá um "click" na cabeça de alguns organizadores de eventos e temos a sorte de ver nomes como Robert Cray, B.B. King, Budy Guy, e alguns outros, em circuitos paralelos.

 

No Palace, os ingressos, em lugares que dessem um mínimo de condições de se assistir um show decentemente, custavam nas bilheterias no mínimo US$ 25 (que a 10 dias não tinha mais lugares para a noite de estréia com Robert Cray). Preço amargo para os padrões nacionais, barato para os internacionais, e barato se compararmos um show com uma atração nacional mais duas internacionais e mais de 4 horas de show contra menos de 2 horas de show da Maria Bethania, que custava aproximadamente o dobro.

 

Como o mar não está pra peixe, os que não podiam se dar ao luxo de gastar perto de US$ 150 por cabeça, mais US$ 40 de estacionamento para as  5 noites, acabaram sorteando um dia para sentir, pelo menos, o gostinho. A minha noite eleita foi a
do dia 27 de maio (94).

 

Com o show começando pontualmente às 21hs30min, Celso Blues Boy tratou de derrubar a teoria de que o Blues cantado em português soa estranho. Animou a platéia com 45 minutos de música e letras gostosas com um bom e claro português. O destaque fica por conta do Aquarela do Brasil tocado com um balanço bem blues.

 

A segunda atração da noite foi o enorme vale-quanto-pesa Coco Montoya. Para os mais distraídos, um nome desconhecido. Cria do falecido Albert Collins e integrante por algum tempo da John Mayalls Band, já colocava as asinhas de fora quanto esteve aqui pela última vez tocando com o próprio John Mayal; que, por sinal, tem o dom de descobrir e revelar talentos.

 

Montoya tocou músicas de seu próprio repertório, não faltando homenagens à Albert Collins, Muddy Waters e outros mestres do Blues.

 

Tem se tornado tradição nos festivais do Free Jazz reservar uma noite para o Blues, trazendo nomes como o próprio Albert Collins, John Lee Hoker e outros. E esta, seguramente  foi uma noite blues na qual reservaram um momento ao rock da melhor qualidade.

 

Já era quase meia-noite quando Eric Burdon / Brian Auger Band entraram no palco. Para quem não se lembra, Burdon foi vocalista de uma das mais importantes bandas do rock inglês dos anos 60 e 70 - The Animals.

 

Fizeram um enorme esforço para tocar duas músicas, mas os problemas com o teclado que não funcionava, retorno e microfonia, eram tantos que foram obrigados a interromper a apresentação para minimizar os problemas. Após 10 minutos de corre-corre e pânico de dois técnicos, e dos próprios integrantes do grupo ajustando o som, eles voltaram com mais rock. O guitarrista, com seu virtuosismo, imitou Jimi Hendrix fazendo solo com os dentes.

 

Até então, o blues só havia passado pela ponta das raízes do rock'n'roll pesado que tocaram, mas definitivamente incendiaram o Palace com Road House Blues dos Doors.  Daí em diante só foi festa! Como não existia divisão entre o palco e as mesas frontais, e Eric se mostrou bastante receptivo ao público, chegando a abraçar e em seguida, com a insistência do fã, beija-lo, ele não teve mais sossego. Não era mais possível distinguir quem fazia parte das mesas e quem era penetra.

 

A verdade é que ele passa a dividir o Nobel de Simpatia com Ian Gillan, que, nas duas vezes que aqui esteve, também não se cansou de cumprimentar e dar autógrafos ao público.

 

O simpático tecladista cinquentão, Brian Auger, apresentou a banda fazendo piadinhas, e pasmem, em português.

 

Eric, irônico e bem humorado, brincava com a voz como queria, chegando a alterar letras de músicas para torná-las mais engraçadas. A última do bis não podia ser outra senão "A casa do sol nascente" que antes de cantá-la disse fazendo caretas I can't stand playing this fucking music anymore (não aguento mais tocar essa porra de música). Mais uma piada ou será que é como o próprio Ian Gillan / Deep Purple com Smoke on the Water ou Ian Anderson do Jethro Tull com Aqualung, que onde quer que estejam, sempre tem que tocá-las?

 

O show acabou por volta de 2:10 da manhã. Minutos mais tarde, com as luzes do palco já apagadas, Eric continuava incansável a dar autógrafos num canto do palco para uma pequena multidão que lá se aglomerava. E os Titãs, onde estão? (Se você não entendeu a pergunta, leia: https://sites.google.com/site/bluesrockshow/aerosmith/holliwood-rock-1994)
 
Ricardo Koetz
 
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