Os shows de 1993 e 1994 estão relativamente bem documentados, pois era o finzinho da faculdade e minhas resenhas eram publicadas no jornalzinho. Mas já em 94 eu estava chegando a conclusão de que eu estava perdendo muito do meu envolvimento com o show, preocupado em ficar guardando detalhes e músicas que estavam sendo tocadas, no lugar de simplesmente relaxar e gozar. Passou um hiato de mais de 10 anos até que eu resolvesse começar a resenhar novamente, agora por força de meus amigos e a facilidade da internet, mas já estou chegando a mesma conclusão, principalmente que agora eu tenho ainda a máquina fotográfica para registrar alguns momentos especiais.
Bem, mas o fato é que em 24/05/1995 e 27/05/1995 eu assisti a duas noites espetaculares do Nescafé & Blues no Palace, e apenas sei quem tocou nessas duas noites, mas não me lembro da ordem das apresentações. Procurei no site do evento, mas nem lá achei a informação. Portanto, relatarei apenas alguns fragmentos dessas duas noites fantásticas.
Como não fazia fotos na época, anexei algumas imagens de CDs que tenho.
Luther Allison era um negrão radicado na França, que fez um tremendo show, me impressionei com a energia e com a forma com que tocou e cantou a sua música Freedom. Comprei CD's dele e procurei na internet, youtube, etc, mas nunca encontrei nenhuma interpretação dele, dessa música, de forma tão marcante quanto a que vi nesta noite. Infelizmente, apenas dois anos depois, no meio de uma tour em 1997 teve súbita falta de coordenação motora e foi diagnosticado com câncer no pulmão com metástese no cérebro, vindo a falecer poucos dias antes de completar 58 anos.
Solon Fishbone, esse gaúcho com certeza tocou no dia 27, pois no dia 24 estava anonimamente na fila do banheiro comigo, onde batemos um papo descontraído e divertido. Imagine a minha surpresa ao vê-lo no palco dois dias depois. Cantando em inglês, toca um blues nervoso que lembra Vaughan em várias passagens. Muito bom!
Derek Trucks, sobrinho do baterista Butch Trucks do Allman Brothers Band, foi considerado prodígio aos 9 anos e já tocava com gente graúda aos 12, nascido em 08/07/1979, não tinha completado 16 anos quando vi no palco um menino tímido, com um boné virado para trás, que olhava apenas de vez em quando de cabeça baixa, rapidamente para o público, tocando blues e fazendo solos desconcertantes, mas com rosto inexpressivo. Tinha a impressão de que ali havia reencarnado um grande bluesman, mas seu corpo ainda não conseguia refletir o significado daquelas notas. Foi fantástico. Fique na caça de um CD do menino, e assim que ele lançou eu comprei, mas não se parecia nada com o show que assisti, o trabalho, apesar de bom, tinha um pé no blues e outro no jazz. Mais tarde, quem diria, ele passou a trabalhar com Eric Clapton, que, em sua biografia, diz que deu nova vida e inspiração à sua música. Não é pouca coisa, dito por alguém que um dia foi chamado de deus.
Paul Rodgers, ver um dos fundadores do Free e do Bad Company em sua carreira solo, tocando seus sucessos e blues de sua carreira solo foi maravilhoso. Fiquei inebriado pelo som, aliás como deveria ser sempre, e acabei não registrando muitos detalhes. Era este o seu visual dele na época e peguei a foto da internet.
Ricardo Koetz
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