06/06/2013 BMW Jazz
Festival - HSBC Brasil
Pat Metheny Unity Band Já faz muito tempo que tenho ouvido falar de um
excepcional guitarrista, no entanto, como ele habita o mundo do jazz, acabei não
travando um maior contato com sua música. Como ele ia participar do BMW Jazz
Festival desse ano e o ingresso tinha um valor bastante honesto, resolvi
conferir. Na entrada havia um clima de euforia, um rapaz
indagava um colega - aí, veio ver o monstro? Um outro estava chamando
Pat de "Richie Blackmore do jazz". Compará-lo a um dos maiores criadores de
riffs do rock, senão o maior, talvez seja exagero, mas seguem alguns
dados sobre o músico: aos 12 começou a tocar guitarra, aos 15 já tocava jazz com
grande músicos, tem quase 40 anos de carreira e ganhou 20 Grammys em 12
categorias, está em aproximadamente 150 discos, entre discos solo e
participações... Sempre que faz algum sucesso ou é premiado, ele diz que curte o
momento por alguns minutos e já procura um novo objetivo no horizonte.
Arranhou um pouco o português, pois morou no brasil
no final dos anos 80, foi amigo e tocou com Tom Jobim, Milton Nascimento, Ivan
Lins, entre outros e teve um relacionamento com a Sônia Braga.
Esse é o Picasso Guitar, levou 2 anos para ser
construído, possui quatro braços de afinação e tem sonoridades que vão do violão à cítara. Quando suas 42 cordas estão
tensionadas, exerce uma pressão de aproximadamente 435 quilos sobre o
instrumento. Começou o show com ele, mas peguei a foto da internet, para ficar
mais fácil de enxergá-lo.
Como na foto acima, era comum estar tocando com um
conjunto de cordas com uma mão e dedilhando em outro. Era muito interessante quando ele e o sax, às vezes
o clarinete, faziam exatamente o mesmo solo. Criava-se uma fusão de sons, como se fosse um instrumento desconhecido, com um timbre novo. No palco estavam espalhados estranhos instrumentos como esses, um pequeno
acordeom e um xilofone disposto na posição vertical atrás do saxofonista e um
armário cheio de garrafas com um líquido dentro, em diversos níveis. Num certo
momento Pat ficou sozinho no palco e esses instrumentos, de alguma
maneira, interagiam com sua guitarra. Depois a banda voltou e tocaram mais
algumas músicas acompanhados por essa "percussão" mecanizada ou instrumentos robotizados, como queira. Ficou bem mais
interessante do que alguns samples adotados por certos músicos. Pat criava fraseados que faziam a guitarra
cantarolar, dava quase para ouvir palavras.
O baterista Antonio Sanchez, à esquerda, fez um solo que se alternava entre
o cerimonioso e contido, com momentos de explosão. Nesses instantes era possível
ver (ou não) a velocidade absurda das baquetas e sua alternância entre as peças
da bateria. Suas mãos pareciam asas de um colibri. Completam o time o
saxofonista, clarinetista, flautista Chris Potter e o baixista Ben Williams à
direita, que, curiosamente, tinha um arco pendurado no baixo o tempo todo, mas
não o utilizou nenhuma vez.
Estranhei a ausência do uso do telão no show dele, será que foi para evitar a
filmagem que depois poderia ser lançada de forma
pirata? 07/06/2013
Diferenças Há algumas coisas que diferenciaram esse show de jazz dos shows que estou
acostumado a ir - além da música parcialmente incompreensível para mim. A
primeira foi logo na chegada, estranhei não conhecer
nenhum dos presentes, até os fotógrafos eram outros, aliás, aquele tumulto de
fotógrafos que se dá nas três primeiras músicas na frente do palco não existiu,
os pobres tiveram que se virar de longe mesmo, e eram poucos. No público, haviam
pouquíssimas pessoas fotografando. Durante a apresentação da James Farm, um dos
câmeras que transmitia a imagem para os telões se empolgou e foi filmar o
baterista bem de pertinho, o saxofonista não teve dúvidas, de cenho franzido cutucou o ombro dele
e o expulsou. Na maioria do tempo o público permaneceu completamente
contemplativo, mas aplaudindo sempre que um dos músicos terminava um solo, o que
acontecia algumas vezes por música. Apesar de o cardápio ter preços
exorbitantes, como em todos os shows, o consumo era maior e os garçons se
esforçavam um pouco mais para não atrapalhar o campo de visão dos presentes. Mas
a principal diferença foi o preço do ingresso. Pergunto, portanto, como é que conseguem
vender mesa no Setor 01 por R$ 140,00 e trazer três bandas com um monte de
gente? Lembrando que num show de rock, uma banda só, a inteira custa geralmente
o dobro, para ficarmos de pé, num espaço mínimo apinhado de gente. Tenho a
impressão de que tem gente querendo ganhar demais, de uma só vez.
Eu ainda não sabia, mas esta seria a banda mais
interessante da segunda noite - para mim. No
início fizeram um som mais fusion.
Eles tocavam um jazz instrumentalmente muito rico,
se trocássemos o sax por uma guitarra e o baixo acústico por um elétrico, eu teria
assistido a um show de rock progressivo, por isso, ouso classificar o som deles
de "Jazz Progressivo".
Esperanza Spalding & Radio Music Society
Atualmente com apenas 27 anos, já ganhou um Grammy
e tocou com muita gente famosa, entre eles, Pat Metheny e Milton Nascimento.
Considerada um prodígio do baixo acústico, tornou-se a mais jovem professora do
Berklee College of Music. Seu repertório caminhou principalmente entre o soul e o jazz, acompanhada
do swing de sua Big Band. Falou português em algumas ocasiões e se expressou bem.
Ela tinha tudo para me seduzir, é linda, meiga, cativante, tem uma voz maravilhosa -
de alguma forma, em certos momentos, me lembrou a voz da Elis Regina - e possui
um agudo inacreditável, apesar disso, foi o show que teve mais momentos
incompreensíveis* para mim.
* incompreensível, leia-se: quando aparentemente
cada músico entra em seu mundo, ignorando completamente a presença dos demais e
principalmente o que estão tocando. Cada um parte para um lado, tocando coisas
completamente desconexas entre si. Teve uma hora que a saxofonista dava soprões no seu sax, roxa, como se ele estivesse entupido e ela tentando desobstruir a passagem de ar... emitindo guinchos. Nessas horas acho que um farol quebrado, com
vários veículos buzinando no congestionamento têm mais música e ritmo do que aquilo -
culpa de meus ouvidos incultos,
certamente...
Egberto Gismonti e a Orquestra dos Corações Futuristas
Estava satisfeito de finalmente assistir também a
um show do Egberto, pois já fazia mais de 30 anos que eu ouvia falar desse
ilustre brasileiro, mais conhecido lá fora do que aqui. Ele veio acompanhado pela Orquestra dos Corações
Futuristas que, com Egberto, contabilizava 22 integrantes. Egberto regeu a orquestra e em alguns momentos
também assumiu o piano.
O show se alternou entre momentos mais "alegres",
onde as flautas predominavam, e outros bem suaves que, infelizmente, pela hora
avançada, acabava agindo como sonífero e não era preciso procurar muito para ver
alguém cochilando. Quando o show terminou, perto das 2 horas da manhã, quase 1/3
dos presentes já havia se retirado.
Bem, se não consegui compreender melhor o jazz, pelo
menos, algumas obras de Frank Zappa que eu considerava um tanto
incompreensíveis, agora consigo vê-las com mais naturalidade. Ricardo |