Robert Plant - 2012

22/10/2012 - Espaço das Américas
 
Antes de falar do show, que é o que interessa, não consigo deixar de falar da casa que tem o pomposo nome de Espaço das Américas, eu chamaria de Galpão da Barra Funda. Se algum dia você tiver que ir até lá, vá de trem ou metro - fica pertinho. Caso tenha que vir de carro, chegue com horas de antecedência e prepare-se para demorar muito para sair, é de longe a pior casa de espetáculos para se ir de carro. Rua estreita, poucas opções de estacionamento, ao lado de uma faculdade, é o caos.
 
 
Por dentro, dá a impressão de um enorme galpão industrial. Tinha um forro antitérmico com algumas placas faltando e outras quase caindo. Os camarotes ficam bem longe do palco e do lado esquerdo ainda tem uns pilares na frente. A pista é dividida em Premium e "Peão", para piorar, tinha, entre a divisão delas, os seguranças, os jornalistas e uma plataforma com um cameraman de pé em cima. Toda a pista está em um único nível, o palco a aproximadamente 1,6 metros do chão, privilegia a visão apenas para quem está espremido na primeira fila. Nas laterais do palco, um telão de cada lado, com imagens escuras, além disso, acho que para quem estava do meio para trás não refrescou muito. Sinceramente, não sei o que o pessoal da pista normal assistiu. O único ponto positivo que tenho a ressaltar é que o som na pista premium estava muito bom.
 
 
Ao que parece, foi contratada às pressas uma banda de abertura, até eles se disseram surpresos. Devem ser muito famosos pois não tinha uma única faixa para dizer quem eram e o próprio líder da banda falou o nome apenas duas vezes de forma não muito clara, de modo que deu um pouco de trabalho para descobrir. Tratava-se de Marcelo Jeneci que, ao que parece, já trabalhou com um monte de gente famosa, tem música em novela, já fez turnê nos EUA a convite do Itamarati. Autor de “Feito Pra Acabar”, um dos melhores discos de 2010, segundo a revista Rolling Stone. Mesmo assim, garanto que a maioria estava como eu, não tinha a menor idéia de quem eram. O som era bem legal, tinha umas viagens meio psicodélicas, mas eu gostava mesmo quando Jeneci pegava o acordeom, chegando a fazer um solo "gêmeo" com a guitarra. Outra coisa legal era Laura Lavieri, de 23 anos, que cantava muito bem. A harmonia vocal e o som às vezes lembrava o 14 Bis.
 
 
Dono de uma das principais vozes do rock, emblemática, a figura quase mítica de Robert Plant subiu ao palco exatamente às 22 horas, acompanhado da banda The Sensational Space Shifters. Mas a voz dele não é mais a mesma, é o que mais ouço. PQP!!! Como é que ainda tem alguém em sã consciência que espera que Robert tenha, aos 64 anos, a mesma voz que tinha aos 20? É ÓBVIO que não tem mais a mesma voz, não poderia ter, caia na real, além do mais, ele ainda está cantando muito bem.
 
 
Ovacionado, começou com Tin Pan Valley, mas o pessoal se incendiou mesmo com Friends (Led Zeppelin vol. III). Aliás, outras duas foram tocadas desse álbum, Gallow’s Pole e Bron-Y-Aur Stomp. Mesclou todo o show com músicas da banda que o tornou famoso, com outras bem recentes. Deixou de lado inclusive boas músicas de sua carreira solo, mais antigas.
 
 
Apesar de ter tocado 8 músicas do Led, não reproduziu simplesmente as músicas, ele praticamente as desmontou, jogou-as num caldeirão onde tinha rock, blues e fortes pitadas de influências orientais e africanas. Chegou a me lembrar o que Dylan faz com as músicas dele, a diferença é que as de Plant ficam bem mais interessantes. Spoonful de Howlin' Wolf tornou-se reconhecível apenas no refrão, mas ficou interessante.
 
 
Na África existe um pequeno país chamado Gâmbia, de lá ele trouxe o músico Juldeh Camara que participou de várias músicas, com seu ritti, uma espécie de violino de uma corda só, mas que fazia um som muito legal, além disso, de vez em quando desembestava a falar / cantar algo que deveria ser em dialeto africano - doido.
 
 
Apresentou a banda e deu ênfase ao tecladista John Baggott, como sendo o rei dos samples e devo dizer que foi a única coisa que me incomodou no som caleidoscópico e multiétnico de Plant. Detesto aquelas levadas eletrônicas e ritmos artificiais de computador, tenho a mesma opinião que a banda Velhas Virgens "O D Jay não toca nada. O D Jay so aperta o play". Samples, considero aceitáveis para alguns efeitos sonoros que não podem ser reproduzidos por instrumentos, mas não como música.
 
 
Outro instrumento exótico utilizado foi o kologo, uma espécie de banjo africano.
 
As outras músicas do Led que ele tocou foram Black Dog, Ramble On, Whole Lotta Love, Going to California e Rock and Roll, sendo as duas últimas tocadas no bis. Para quem se interessar, todos os shows da turnê estão disponíveis no site oficial para download com valores que vão de US$ 0,99 por música ou à partir de US$ 10,00 para cada show completo. Atitude corajosa, pois lá estão todos os defeitos e qualidades, erros e acertos. Baixei o show que assisti e a qualidade me pareceu aceitável.
 
 
No geral, gostei bastante do show, mas estaria mentindo se dissesse que não senti falta da guitarra selvagem de Jimi Page, da atmosfera sombria que criavam com algumas músicas e da crueza do rock - longe da World Music - que faziam em outrora.
 
Ricardo
 
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