09/10/2018 - Allianz Parque Pink Floyd sempre foi sinônimo de apresentações
apoteóticas, tecnologia de ponta, efeitos sonoros e visuais monumentais e forte
protesto contra qualquer tipo de autoritarismo e intolerância. Quando Pink Floyd encerrou as atividades, Roger
Waters deu continuidade e mantém o legado vivo. Com 75 anos, quando falava, preocupou-me a voz
muito rouca e pigarreando muito, felizmente cantou sem qualquer
dificuldade. A turnê "Us + Them" contou com um gigantesco telão
de led de alta fidelidade que cobriu todo o fundo do estádio de um lado a outro.
Mesmo com tudo isso, depois da super produção do show "The Wall" de 2012,
qualquer coisa parecia pequena. Claro que foi um EXCELENTE show, contudo o que
realmente repercutiu foi uma grande polêmica. A primeira parte do show é finalizada com "Another Brick in the Wall" com
um coral de 12 crianças / pré-adolescentes do Centro Nossa Senhora do Carmo, que
começaram encapuzadas e usavam as roupas que lembravam as vítimas que eram
decapitadas pelos talibaneses. Tiraram o capuz, depois o macacão, exibindo a camiseta convidando à
"Resistência". Durante o intervalo eram projetadas frases com apelo humanitário,
ecológico e anti preconceitos. De vez em quanto ouvia-se o coro "Ele não" x
"Fora PT". Jonathan Wilson no detalhe.
A segunda parte começou com efeitos sonoros que literalmente fizeram a
terra tremer. No telão brotavam do chão as chaminés e a própria usina
termelétrica Battersea que deu capa ao trabalho do Pink Floyd que mais gosto,
Animals, que num sentido figurado representa a sociedade falando de cães, porcos
e ovelhas, e nem imaginávamos o que nos esperava - nem ele. Conforme as chaminés projetadas foram atingindo o topo do
telão, continuaram a subir atrás do telão quatro chaminés cenográficas, dando a
impressão de estarmos diante da própria termelétrica. Começaram a tocar "Dogs" e quando foi a vez de
"Pigs", puxaram um enorme porco inflável que passava por cima de nós, com frases
de efeito... ... enquanto no telão Donald Trump é
ridicularizado de várias maneiras e também foram exibidas várias de suas
célebres frases politicamente incorretas.
Até então todos achavam graça. Em seguida apareceu uma lista de líderes
considerados por Roger como neo-fascistas. O último deles era Bolsonaro. Passou
meio que batido, causando algum agito mas nada demais.
No final da música "Eclipse" foi exibida a hashtag
#EleNao. Nunca me imaginei ir para um show e não escrever
sobre algo em que o foco principal não fosse a música. Durante quase cinco
minutos o show foi paralisado por vaias ensurdecedoras. O problema é que, sem conhecer completamente o cenário político nacional que se polarizou exageradamente em
extremos, ao dizer que não gostaria de estar em um país que tivesse um governo
fascista, muitos entenderam que estava dizendo que um país dirigido por
corruptos tentando se perpetuar no poder com forte viés comunista, tudo bem. Dave Kilminster Na minha opinião, com o fim do primeiro turno das
eleições há apenas dois dias, com os ânimos ainda exaltados, ingenuamente brincou com fogo dentro de
um barril de pólvora. Na minha frente estava a área VIP e dentro dela, a poucos
metros de onde eu estava, eclodiu uma briga que causou um tumulto enorme e
poderia ter criado um incidente de grandes proporções, num estádio absolutamente
lotado. No dia seguinte recebi relatos de que os confrontos tinham acorrido em
diversos pontos diferentes, inclusive na saída. Me senti no Fla-Flu ou Corinthians x Palmeiras, com
o agravante de as torcidas estarem misturadas e haver pouquíssimo policiamento.
Sempre que conversei com seguranças em shows de rock, eles me diziam que não
havia necessidade de reforçar o policiamento porque todos estão lá pela
diversão, não há rivalidade, e o público é sempre "de boa". Acho que
retrocedemos muito nessa noite.
O show extra que fez no dia seguinte, vendeu pouco,
mas por uma questão de segurança dos presentes e de bom senso, o "#Ele Não" foi
retirado e "Bolsonaro" na lista de fascistas foi substituído por uma tarja
vermelha "ponto de vista político censurado". Com mais 6 shows pela frente no Brasil, o clima de
rivalidade foi criado e o pessoal já vai pronto para protestar contra e a favor.
Conforme divulgado sobre o show que fez na quarta e o de Brasília, brados "Ele não", "Ele sim"
e "Fora PT" ocorreram com frequência. Um show que ficará na história, infelizmente mais pela estupidez dos presentes do que pela beleza do espetáculo.
Ricardo
|
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