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2019

16/03/2019 - Tropical Butantã

 
Não fazia nem um ano do último show deles por aqui e já estavam voltando. Numa época de crise, com um show em que a meia entrada estava custando R$ 120,00 numa casa grande sem tradição para o rock, fiquei apreensivo de que pudesse ter pouca gente para assistir uma das grandes bandas de metal surgida na Inglaterra no final dos anos setenta.


Logo ao me aproximar da casa de espetáculos percebi que minhas preocupações foram desnecessárias, a rua estava intransitável, tomada por centenas de cabeludos tatuados, trajando camisetas da banda, jeans e jaquetas.

 
Ao entrar, faltando mais de uma hora e meia para o show, tive mais uma surpresa, a pista já estava praticamente lotada. Seria um show em que a troca de energia entre banda e platéia seria intensa. Pelo o que já havia visto deles em shows anteriores, seria também uma aula de Heavy Metal e de simpatia com o público.


Para abertura foi escolhida a banda Uncle Trucker, de Franca, com seu Hard & Metal competente e instigante. Além de músicas próprias, fizeram também cover do Quiet Riot, Motley Crue e fecharam com Poison, do Alice Cooper, o que me surpreendeu.


Pessoas "portadoras de necessidades especiais" foram acomodadas no vão que ficava entre o palco e a barreira de contenção da pista. Percebi que tinha um único segurança de estatura pouco intimidadora para contornar algum problema ou tentativa de invasão. Preocupado com minha própria segurança perguntei ao rapaz se ele receberia mais algum reforço "Não, esse pessoal é de boa, se fosse noite de sertanejo, aí seria um inferno.", respondeu.


Bem do meu lado, fixaram no chão do palco a lista das músicas, estiquei o braço e fotografei. Era apenas um norte para eles, acabaram modificando, tiraram umas e acrescentaram outras que o público pediu.


Passava um pouco das 22 e as luzes se apagaram. Era hora de nos tornarmos um único organismo vivo, num rito que envolve a evocação e a transmutação de energia, como um dínamo que se auto alimenta.


Na linha de frente da platéia, encontrava-se um jovem senhor, como eu, que veio de Fortaleza especialmente para o show, e agitava sua jaqueta jeans com vários nomes de bandas bordadas e com o emblema do Saxon no centro das costas. Durante Wheels of Steel, Biff pediu a jaqueta que foi arremessada para ele que a colocou junto da bateria, logo viu outra que era do amigo deste mesmo rapaz e também a confiscou. Do outro lado do palco apareceu uma terceira e do centro uma quarta. Quando terminaram de tocar Strong Arm Of The Law, Biff vestiu a primeira jaqueta, se dirigiu ao guitarrista Paul Quinn e segurou sua guitarra para que ele pudesse vestir a jaqueta. "Essa é para você", dirigindo-se ao segundo guitarrista Doug Scarratt, e fez o mesmo com o baixista Nibbs Carter. Prontos, todos vestidos à caráter para tocar o clássico Demin & Leather. Ao final, as jaquetas foram devolvidas aos respectivos e radiantes donos.

Em várias músicas agitaram com o headbanging.
 
Logo que começou o show, com o tumulto do entra se sai de fotógrafos, alguém me toca o ombro e implora "Por favor, faz escadinha para mim, por favor, por favor!", me neguei a ajuda-lo a subir no palco e ele se recolheu. Quando Demin & Leather terminou, o mesmo maluco escalou o palco por conta própria, parou na frente de Biff e mostrou uma tatuagem na parte interna do antebraço. Biff abriu os braços e o abraçou carinhosamente. Quando estava para ser expulso pelo segurança, se devencilhou dele e saltou do palco para o meio da galera.

Algumas fotos, mesmo quando a qualidade é sofrível, merecem ser mostradas. No destaque, Paul Quinn, 67, membro original e fundador da banda, debulhando um solo a poucos centímetros de mim.
 
Aos brados alguns apressados pediam pela sua música preferida, Biff olhou para eles e indagou "Por que da pressa? Nós temos tempo, vamos tocar por duas horas. Vocês querem ouvir Solid Ball Of Rock?" gerando sonoro yeah "ou Ride Like The Wind?" e o yeah se repetia "Tudo bem, então vamos tocar as duas.", apesar de não fazerem parte da programação.


Todos os músicos tiveram uma performance que merece elogios, mas é preciso dar um destaque à voz de Biff Byfford que, aos 68 anos, continua impecável!
 
Quando esperava uma reação mais efusiva da platéia, provocava "Estou no Rio? Estou em Porto Alegre?" Com a ruidosa reação exclamava "Wow, this is Sao Paulo!!!". 

 
À esquerda o elétrico e simpático baixista, Nibbs Carter, mais agitado da turma. Ao lado, Doug Scarratt, segundo guitarrista. Depois dos agradecimentos finais, Nibbs deitou no palco e se espichou todo para conseguir tocar a mão de uma cadeirante que estava à sua frente.


Outra foto ruim, mas é a única que tenho do baterista, Nigel Glocker, segundo da direita para a esquerda. Infelizmente, do ponto em que eu estava, ele ficou encoberto o tempo todo pelo seu instrumento.
 
Foi a quarta vez que estava assistindo ao Saxon e o repertório foi excelente, para mim faltou a bela Broken Heroes. Como disse, uma aula de metal tradicional, humildade e simpatia. Longa vida a eles e que tenhamos a oportunidade de prestigiá-los muitas vezes mais.
 
Ricardo

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