Tarja‎ > ‎

Noite Escandinava

01/04/2004 - Noite Escandinava (Teatro das Artes – Shopping Eldorado)

 

Quando vim assistir a minha deusa Tarja Turunen a cantar músicas folclórica finlandesas, eu sabia que não se trataria de um show rock, eu apenas queria ouvir sua maravilhosa voz.

 

Eu já havia assistido a uma enorme quantidade de shows, mas este foi um dos mais surpreendentes e inusitados, e o mais incrível, a surpresa foi criada não pelos protagonistas, mas pelo público presente. Todos sabem que roqueiros são mal-educados, arruaceiros, incontroláveis, desrespeitosos, indisciplinados, etc. etc. Certo? Errado!

 

Estava claro de que o espetáculo não estava voltado para público roqueiro, mas se dependesse do público da embaixada e colônia finlandesa de nosso país, provavelmente não mais que uns quinze lugares teriam sido ocupados, ou será que os fãs de Tarja foram mais rápidos e esgotaram logo os ingressos? Quem sabe... Mas o fato é que o shopping Eldorado naquele entardecer estava tomado por frequentadores bem diferentes do normal. Uma legião de apaixonados, totalmente vestidos de preto e com camisetas da então vocalista do Nightwish, invadiu o local. Quando vi aquele alvoroço todo, hmmmm, pensei comigo, isso não vai dar certo. O teatro estava um pandemônio, uma representante da produção subiu ao palco e quase desmaiou com os berros, assovios e aplausos. Com um olhar de pânico, ligeiramente trêmula, alertou os presentes de que não se tratava de uma apresentação do Nightwish, mas sim de um grupo que cantava músicas folclóricas finlandesas, em FINLANDÊS, do qual, fazia parte a Tarja que, por um acaso também, era vocalista do Nightwish (mais berros, assovios e aplausos). Tentando fazer com que a multidão se acalmasse, alertou ainda que se tratavam de duas moças e um rapaz que cantariam SEM MICROFONES ou qualquer auxílio para amplificar a voz e que o SILÊNCIO ABSOLUTO era indispensável para que fosse possível ouvi-los (mais berros, assovios e aplausos), e que seriam acompanhados apenas por um piano (Tarja-Tarja-Tarja...). Para nos alegrar, a moça informou que a assessoria de impressa divulgara que o Nightwish se apresentaria em 4 de dezembro no Brasil. Depois disso ficou impossível ela falar qualquer coisa a mais.

 

A campainha soou algumas vezes e com o teatro numa zona total, uma moça apareceu, esperou o silêncio e cantou uma musiquinha folclórica insossa, acompanhada por uma pianista japonesa. Em seguida veio um tenor com cara engraçada e muito estranho. Por fim Tarja apareceu e o Eldorado tremeu do último andar em que estávamos até suas fundações. Ela manteve-se séria por longos segundos até que o silêncio se fez e ela soltou a voz em outra musiquinha esquisitinha. Quando ela terminou, a platéia ensandecida levantava, urrava, berrava, se abraçava, aplaudia e assoviava, depois de uns trinta segundos de exorcismo o silêncio se tornava onipresente novamente. A rotina se repetia. Cada um cantava uma vez e se retirava, às vezes cantavam juntos. O pessoal ficava possesso e o silêncio voltava, era inacreditável, o silêncio era tamanho que dava para ouvir o tilintar de louça sendo lavada no barzinho do hall de entrada do teatro. Eu estava pasmo.

 

Agora, cá entre nós, o show foi um saquinho. Não assistiria novamente, principalmente porque não havia nenhuma apresentação do tipo olha, esta música representa a celebração da colheita... bla-bla-bla bla-bla-bla. Nem uma mísera explicação, acho que eles pensam que os brasileiros são experts em folclore finlandês e que, ainda por cima, falam a língua fluentemente. Na minha opinião, diante da enorme demonstração de devoção e respeito de seu público, faltou o respeito deles, e, bem que merecíamos pelo menos uma musiquinha lenta do Nightwish, adaptada ao piano, para nos premiar por aguentar toda aquela chatice no mais absoluto silêncio. Duvido que os apreciadores de música clássica teriam sido tão respeitosos e controlados quanto nós.

 
Ricardo Koetz
 
Comments