Twisted Sister

Feiticeiros ou enfeitiçados? - Via Funchal 20/11/2010
 
Quando tinha meus 19 aninhos, lá no longínquo ano de 1982, eu trabalhava com um amigo que, em função de sua crença religiosa, decidiu extinguir sua coleção de discos de rock, o que me deixou muito contente, pois graças a isso conheci e tive a oportunidade de por as mãos na discografia da The Sensational Alex Harvey Band e alguns discos da Patti Smith, da qual hoje gosto tanto que não consigo justificar racionalmente. Ele dizia que os artistas tinham o poder de enfeitiçar a sua audiência, por isso, deveria queimar os discos, mas, apesar de crente, não era besta e ganhou uma graninha vendo seu acervo. Ele não sabia que a audiência também tinha o poder de enfeitiçar quem está no comando.

 

William Borroughs, americano, escritor, pintor, crítico social, descreveu o público dos shows que viu do Led Zeppelin no Madison Square Garden, em fevereiro de 1975, com 61 anos, como “um rio de juventude curiosamente parecido com um único organismo”, comparando os shows com uma tourada. “Havia uma troca de energia palpável entre os músicos e a platéia... um show de rock é um rito que envolve a evocação e a transmutação de energia. As estrelas de rock podem ser comparadas a pastores”. Fala ainda sobre a evocação e controle de forças espirituais.

 

É, mas se ele tivesse assistido a alguns shows no Brasil, ele descobriria que as ovelhas também tem um poder enorme e podem influir nos seus pastores.

 

 

 

O show do Twisted Sister foi um exemplo típico, a energia era muito forte e era difícil dizer quem eram os feiticeiros e quem eram os enfeitiçados. Acima está Dee Snider, vocalista, um pouco depois de iniciar a primeira música do show, vibrando, correndo eufórico para o fundo palco e sinalizando ok para o backstage, já prevendo que seria uma noite e tanto.

 

 

Dos shows que já assisti, continua sendo o cara mais difícil de fotografar, o sujeito não para um segundo.

 

 

Com o repertório baseado no álbum Stay Hungry, seu maior sucesso, Dee, com seu incrível carisma e presença de palco, fez-nos cantar, gritar, pular, gargalhar, arfar... Mas a grande surpresa foi quando lembrou que este ano havíamos perdido uma lenda, uma grande personalidade, um grande amigo para eles, um dos maiores deuses e maiores vozes do metal, Ronnie James Dio, e fizeram uma bela homenagem tocando Long Live Rock'n'Roll, dos tempos em que Dio estava no Rainbow. Ficou excelente na voz dele que, por sinal, nesta música se aproxima muito da de Dio. Emocionou a todos e foi cantada a plenos pulmões como se fossemos "um único organismo".

 

 

Olha a alegria dos caras ao verem o símbolo deles bem no meio da bandeira, esses sorrisos eram vistos o tempo todo durante o show.

 

Se no show do Paul McCartney Live and Let Die foram os 3 minutos mais rápidos de minha vida, com eles eu tive a minha 1H30Min mais rápida da minha vida.

 

 

Durante as músicas e entre cada intervalo, os músicos ficavam sorrindo e se entreolhando, como quem diz, você está vendo isso? Eu não acredito!!! Quando terminaram We're Not Gonna Take It, com sorrisos de orelha a orelha, estavam sendo ovacionados, nesse momento o único organismo começou simultaneamente a cantar o refrão da música que acabaram de tocar, o que os fez voltarem a tocar a última parte da música à partir do refrão.

 

J.J., guitarrista e fundador da banda fez questão de filmar um trecho de I Wanna Rock, para mostrar para seus amigos como é tocar no Brasil.

 

Este foi o fim de uma semana fantástico, Paul na segunda, Jeff Beck na 5a. (não assisti dessa vez, contaram-me que foi excelente), TS no sábado e domingo com o Yes, como eles vinham sem Jon Anderson, seu vocalista, titubiei um pouco e os ingressos esgotaram. No lugar de Jon veio um cantor que é o vocalista de uma banca cover do Yes na Inglaterra, deve cantar igualzinho. Fora isso, veio o clássico trio de ases Steve Howe nas guitarras, Chris Squire no baixo, Alan White na bateria. Nos teclados veio Oliver Wakeman, filho mais velho de Rick que também participou da fundação da banda e depois voltou a ocupar esse posto por algumas vezes.

 

Hocus-pocus

 

Ricardo

bluesrockshow@gmail.com

 

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