Uriah Heep

27/05/2014 - Via Marquez

Quando os shows saem do circuito das casas de espetáculo mais tradicionais, já começo a me preocupar, imagina quando são três shows em plena terça-feira. Elevo ao quadrado. Não deu outra, congestionamento monstro e, mesmo chegando pouco antes do "início", amargamos uma hora na fila em baixo da garoa fina e frio. 


Pelo menos vivenciamos uma cena curiosa: eis que surgem, numa porta do prédio ao lado de nossa fila, tentando parecer invisíveis, todos os integrantes do Uriah Heep, em roupas veranescas querendo passar de fininho - provavelmente para fazer um lanche. Com o alvoroço da galera entre assobios, gritos e aplausos, o vocalista Bernie quase pulou no meio dos carros que estavam na avenida congestionadíssima, como não tinham para onde correr, fizeram de conta que não era com eles e prosseguiram caminhando na calçada em passo apressado para o destino.

A primeira banda a se apresentar foi um power trio de metal chamado Pop Javali, uma banda com músicos talentosos cantando em inglês (acho), mas como o som estava absurdamente alto e embolado, não consegui compreender a proposta, coloquei meus protetores auriculares e prefiro me abster de comentários.
 
Uriah Heep
 

Com um bom público, quase duas horas de atraso e entediantes passagens de som, o Uriah Heep subiu no palco para tocar o mesmo setlist executado na Virada Cultural, acrescentado de duas músicas, as excelentes Traveller in Time e Free & Easy, sendo a última a primeira do bis. Como o conteúdo foi muito parecido com a Virada, http://www.bluesrockshow.com/virada-cultural-2014/1-uriah-heep, vou contar um pouco sobre os bastidores desse show.
 

Apesar de estar longe de cristalino, o som havia melhorado bastante, em comparação com a primeira banda, pelo menos o volume estava compatível. Como eu estava na frente da mesa de som, elogiei o engenheiro que a operava - me disseram que era o engenheiro do Iron Maiden (?!). Pediu mil desculpas, dizendo que havia feito o melhor que podia, tentou me explicar os problemas técnicos que estava tendo e fez uma enorme careta ao apontar para a mesa que lhe deram para trabalhar.


Tive a oportunidade também de observar como toca um músico que não aparece no palco, um músico que não toca instrumentos sonoros e sim visuais. Foi muito legal ver o "maestro" teclando na mesa que controla todos os holofotes e efeitos visuais no ritmo das músicas. É um artista que conhece tão bem as músicas quanto qualquer integrante da banda e tem a habilidade de um tecladista.


 
Depois da última música, ouvi atrás de mim o engenheiro de som perguntando, de forma exaltada, coisas para o engenheiro da banda 3HD. Um não falava português e o outro não entendia patavinas de inglês. Resumo da ópera, o engenheiro brasileiro havia mexido na mesa antes que o outro pudesse salvar alguma coisa no pen-drive, no meio do fogo cruzado levei longos 15 minutos tentando apaziguar os ânimos, até que ficou claro que nenhum dos dois havia feito ou dito qualquer coisa por maldade.

A máxima da filosofia dos anos 70 estampada na camiseta do tecladista Phil Lanzon.
 
3HD


Sérgio Hinds, guitarrista da lendária banda de rock progressivo brasileiro O Terço, desde 2006 montou um trio de músicos motociclistas, 3HD (HD de Harley Davidson).


No show ele mesclou músicas do Terço com clássicos do rock como Highway to Hell do ACDC com a qual ele abriu o show, homenageou Raul Seixas com Sociedade Alternativa e, surpresa para mim, tocou a impagável Canalha de Walter Franco. Pena que o público que ficou era mínimo. Só achei estranho ouvir o teclado sampleado para as músicas do Terço. A qualidade de som estava boa e o baixo era forte como o progressivo exige.


Durante o show o baixista Davey Rimmer apareceu e um pequeno grupo de pessoas foi tirar fotos com ele. Quando voltou para o camarim, sinalizou para o segurança que deveria deixar o grupo acompanha-lo. Me enfiei no meio e entrei. Acima o setlist que consegui com o engenheiro de som como agradecimento pelos meus serviços prestados de tradutor, no camarim consegui o autografo dos integrantes da banda.


Acabei conversando um pouco com Mick Box e Bernie Shaw. Olha a alegria de Mick, fundador do Uriah Heep, parece que está fazendo o primeiro show da carreira e posando para um fã pela primeira vez na vida, incríveis esses caras.


O alto astral da banda no palco também se reflete nos bastidores, sempre sorridentes, simpaticíssimos, receberam todos com atenção. Estavam à disposição pizza e bebidas. Acima o baterista Russel Gilbrook.


Perguntei para o Bernie se ele não se cansava de ter que cantar todas as noites as mesmas músicas, comentei que, anos atrás num show em São Paulo, Eric Burdon havia reclamado com a frase "I can't stand playing this fucking music anymore" antes de cantar The House of the Rising Sun. Seus olhos azuis se inflamaram e ele falou com paixão "He is a bastard!" e sorriu, "eu estive com ele há duas semanas atrás na Holanda, ele está velho e entrevado, e ainda canta como a 40 anos atrás! Mas ele não podia dizer isso, cada audiência é diferente e cada uma te dá uma resposta diferente, por isso, nunca é a mesma coisa e eu nunca me canso disso."


Antes de sair ainda apontei a máquina para Mick e ele imediatamente me fez um sinal. 

Um show de música e principalmente de simpatia. Puxa! Como tem músico novo precisando aprender com os vovôs.
 
Ricardo

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